A nova queda no preço do diesel anunciada pela Petrobras reacendeu o debate sobre a estratégia comercial da estatal. Para Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o problema central não está apenas no reajuste pontual, mas sim na ausência de transparência e previsibilidade que marca a atual política da empresa desde que ela deixou de seguir a paridade internacional de preços (PPI).
“A Petrobras não segue mais a paridade internacional. Ela tem a política de preço dela, o chamado abrasileiramento, que ninguém sabe exatamente como funciona. A empresa não deixa claro quando vai subir ou baixar o preço, e isso traz insegurança”, afirma Rodrigues.
Repasses da Petrobras são seletivos: cortes são rápidos, aumentos são ignorados
Um dos principais pontos destacados por Rodrigues é a assimetria no comportamento da Petrobras: as reduções de preço ocorrem com velocidade sempre que o mercado permite, mas os aumentos são sistematicamente segurados pela estatal.
“O que a gente tem visto, pelos últimos três reajustes, é que sempre que o barril sobe ou o câmbio piora, a Petrobras segura o aumento. Mas quando há espaço para queda, o repasse acontece rapidamente”, explica.
Essa dinâmica, segundo o diretor do CBIE, revela que a estatal está sendo usada como um instrumento político-econômico, colocando os interesses do governo acima da lógica de mercado. Isso impacta diretamente os acionistas.
“Antes da última queda de preços, a empresa ficou um ano sem reajustar o diesel, mesmo com as variações internacionais indicando aumento. Isso prejudica a rentabilidade e é o acionista quem paga a conta.”
Petrobras: volatilidade global e ausência de critério agravam o cenário
O contexto atual do mercado de petróleo é marcado por alta volatilidade. Pedro Rodrigues cita três fatores que estão influenciando o comportamento do barril:
- Risco de recessão global, agravado pelas incertezas sobre uma possível volta de Donald Trump à presidência dos EUA e sua política protecionista;
- Aumento da produção por países da OPEP+, o que afeta a oferta global de petróleo;
- Escalada das tensões geopolíticas entre Rússia e Ucrânia, com impacto direto sobre os preços das commodities energéticas.
Diante desse cenário, o especialista chama atenção para a falta de clareza sobre como a Petrobras vai agir caso os preços internacionais voltem a subir.
“Hoje, não sabemos se haverá repasse de alta e, se houver, quando ele ocorrerá. A Petrobras deixou de seguir critérios objetivos. O abrasileiramento é um conceito vago que não traz segurança ao mercado.”
Risco regulatório e perda de credibilidade
A principal crítica de Rodrigues recai sobre a falta de previsibilidade. Sem uma política clara e transparente, o mercado fica exposto ao risco regulatório e político.
“Essa imprevisibilidade prejudica o consumidor, que não entende o que está pagando, e também afasta investidores, que precisam de regras claras para tomar decisões.”
Segundo ele, embora a ideia de “abrasileirar” os preços busque proteger o consumidor de oscilações externas, o custo dessa escolha é transferido para os acionistas da Petrobras, especialmente em momentos de pressão nos preços globais.
Modelo atual compromete competitividade da Petrobras
Além da perda de previsibilidade, a atual política da Petrobras compromete a competitividade da empresa no longo prazo. Ao ignorar referências internacionais, a companhia pode desestimular investimentos em refino e distribuição, além de afetar a confiança institucional junto ao mercado financeiro.
“Quando a Petrobras seguia a paridade internacional, os preços subiam e caíam conforme o mercado. Havia crítica, mas havia lógica. Hoje, não sabemos se estamos diante de uma empresa de mercado ou de uma ferramenta política. Isso fragiliza a imagem da companhia.”
Política atual gera insegurança e inibe planejamento
Para Pedro Rodrigues, o maior problema da atual política da Petrobras é a ausência de um parâmetro confiável, o que torna difícil para empresas, investidores e consumidores planejarem suas ações.
“A imprevisibilidade se tornou regra. E isso, em um setor como o de energia, que exige investimentos bilionários e de longo prazo, é um risco estrutural para o país.”
A expectativa, segundo ele, é que a companhia revise sua comunicação com o mercado e estabeleça diretrizes mais claras para garantir previsibilidade e confiança, sem abrir mão de sua responsabilidade social.