O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou como “excelente” o encontro que teve na Califórnia com o subsecretário do Tesouro norte-americano, Scott Nathan, reforçando a tentativa do governo brasileiro de estreitar os laços econômicos com os Estados Unidos. Segundo Haddad, a conversa abordou temas estratégicos, como atração de investimentos e fortalecimento das relações comerciais bilaterais.
A movimentação marca uma mudança de protagonismo nas relações com Washington. Até então, as articulações com autoridades americanas vinham sendo lideradas majoritariamente pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Agora, com Haddad à frente de discussões econômicas, o governo brasileiro demonstra disposição para institucionalizar uma cooperação mais robusta no campo do comércio e do investimento.
Brasil se beneficia de tentativa de aproximação de Haddad
Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, essa aproximação ocorre em um momento estratégico para o Brasil. Ele destaca que o país saiu favorecido na recente definição de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. “O Brasil foi beneficiado com uma taxa mínima de 10%. Isso evita o chamado efeito de substituição de produtos, ou seja, de consumidores e empresas americanas optarem por fornecedores de outros países devido a tarifas mais baixas”, explicou.
Sung observa que essa margem tarifária ajuda a manter a competitividade dos produtos brasileiros no mercado norte-americano. “Se o Brasil estivesse sujeito a uma alíquota de 20%, perderia espaço para países com produtos similares e tarifas inferiores”, completa.
Abertura comercial impulsionada por tensões entre China e EUA
Outro fator destacado pelo economista é o contexto geopolítico. A guerra comercial entre China e Estados Unidos tem gerado reconfigurações no comércio internacional, abrindo janelas de oportunidade para o Brasil. “Em função das tarifas chinesas sobre produtos norte-americanos, a China ampliou a compra de commodities brasileiras, como a soja. Esse redirecionamento de fluxos comerciais favorece o Brasil e pode ser intensificado com uma diplomacia econômica mais ativa”, afirmou Sung.
Oportunidade de reposicionamento estratégico
A aproximação entre Brasil e Estados Unidos, nesse cenário, não se trata apenas de um gesto diplomático, mas de uma estratégia comercial com impacto direto na economia. “É melhor ter esse tipo de tratativa e buscar benefícios concretos para o comércio exterior do que manter relações distantes ou tensas. A reaproximação entre os países pode gerar frutos importantes para o setor agrícola, industrial e até para o mercado de aeronaves, onde o Brasil também tem relevância”, avaliou Sung.
Haddad tenta aproximação
A agenda de Haddad nos Estados Unidos revela a intenção do governo brasileiro de reposicionar o país em meio à disputa comercial das duas maiores potências globais. Com tarifas moderadas e vantagens competitivas em segmentos estratégicos, o Brasil pode ampliar sua inserção em mercados relevantes, desde que mantenha o diálogo institucional com seus principais parceiros.
Para analistas, a condução dessa política econômica externa deve ser pragmática, buscando ampliar investimentos, preservar a competitividade do produto nacional e explorar com inteligência os efeitos colaterais da geopolítica global.