Uma operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) trouxe à tona um dos maiores esquemas de fraude envolvendo benefícios previdenciários nos últimos anos. Batizada de Operação Sem Desconto, a investigação revelou que aposentados e pensionistas do INSS foram alvo de descontos indevidos em folha para entidades sindicais, sem consentimento formal.
Entre as instituições envolvidas, está o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), onde atua como vice-presidente José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora o nome de Frei Chico esteja ligado à entidade, ele não é investigado diretamente até o momento.
A seguir, a cronologia dos principais fatos do escândalo:
2019 a 2024: crescimento expressivo nas receitas e filiações
Segundo os órgãos de controle, o Sindnapi apresentou um crescimento atípico nas suas receitas e número de associados.
- Receitas: saltaram de R$ 23,3 milhões (2020) para R$ 154,7 milhões (2024)
- Filiados: passaram de 170 mil para 420 mil no mesmo período
Parte dos beneficiários, no entanto, nega ter autorizado a filiação ou os descontos, levantando suspeitas de fraude no processo de adesão.
23 de abril de 2025: PF deflagra a Operação Sem Desconto
A Polícia Federal realizou buscas e apreensões em diversas sedes sindicais e entidades de aposentados.
O foco da operação foi apurar um esquema de descontos ilegais em aposentadorias, envolvendo cerca de R$ 6,3 bilhões em prejuízos acumulados ao longo de cinco anos.
O Sindnapi, onde Frei Chico ocupa cargo de liderança, foi um dos principais alvos da ação. A entidade foi descredenciada pelo INSS de realizar novos descontos em benefícios.
Demissão na cúpula do INSS
Após os desdobramentos da operação, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi exonerado do cargo.
Outros servidores também foram afastados, e o governo anunciou a suspensão temporária de todos os descontos associativos em benefícios previdenciários, como medida cautelar.
Reação do irmão de Lula
Em nota à imprensa, Frei Chico declarou estar tranquilo e defendeu a atuação do sindicato. Disse ainda apoiar a apuração completa dos fatos.
“É importante investigar toda a sacanagem que existe no sistema do INSS”, afirmou.
Repercussão política e medidas no Congresso
O escândalo teve forte repercussão no Congresso Nacional. Parlamentares apresentaram projetos de lei para aumentar a transparência dos descontos em folha e endurecer a fiscalização sobre entidades conveniadas ao INSS.
A oposição criticou a proximidade de lideranças sindicais com o governo, enquanto integrantes da base reforçaram que não há até o momento indícios de envolvimento direto de Frei Chico na fraude.
Contexto: falhas estruturais e vulnerabilidade do sistema
O caso expôs fragilidades no sistema de convênios e autorizações de descontos em benefícios.
Segundo a CGU, a falta de comprovação formal dos consentimentos e o acesso automatizado a dados dos segurados facilitaram o avanço da fraude por parte de entidades conveniadas.