Durante entrevista ao programa BM&C News, o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, comentou as falas recentes de Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central. Em audiência no Senado, Galípolo defendeu a independência técnica da autoridade monetária e indicou que o atual patamar dos juros pode ser mantido por mais tempo do que o mercado espera.
Segundo Cruz, o Banco Central enfrenta um desafio específico com a inflação de serviços, que permanece elevada e resistente a quedas. “Essa parte da inflação está difícil de ser reduzida. Por isso, foi necessário levar os juros a 13,75% e, depois, até os 14,25% atuais”, afirmou o estrategista.
Objetivo do BC: conter consumo e estimular poupança
Para Cruz, a estratégia do Banco Central é desacelerar a economia para enfraquecer as pressões inflacionárias. “A ideia é desestimular o consumo e incentivar a poupança, o que pode ajudar a conter a inflação nos próximos meses”, explicou.
Nesse contexto, Galípolo busca reforçar que a política monetária segue guiada por critérios técnicos, independentemente do cenário político. “Ele tenta passar ao público que estamos nos estágios finais do ciclo de aperto, mas ainda não há espaço para iniciar cortes”, avaliou Cruz.
Cenário externo pode adiar alívio monetário
Apesar de sinalizações sutis, Gustavo Cruz alerta que o ambiente internacional ainda é um fator de risco para a normalização da política monetária no Brasil. Tensões como a guerra comercial e a indefinição sobre os juros nos Estados Unidos podem influenciar as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Quanto mais estressado o cenário externo, mais longe o Brasil estará de começar um ciclo de cortes. E, mesmo internamente, a inflação segue rodando perto de 5,5% em 12 meses — bem acima da meta de 3%”, destacou o estrategista.
Manutenção dos juros ainda é o caminho mais provável
Com o cenário atual, Cruz acredita que o Banco Central deve manter os juros no patamar atual nas próximas reuniões, aguardando sinais mais claros de convergência inflacionária. “Ainda estamos longe do centro da meta, e isso exige cautela. A comunicação de Galípolo é um esforço para deixar isso claro ao mercado”, concluiu.