A recente combinação de fatores no mercado dos Estados Unidos — como a perda de força do dólar, a queda nos índices acionários e a reprecificação dos títulos do Tesouro — tem surpreendido os investidores. O comportamento, geralmente associado a mercados emergentes, está agora sendo observado em ativos americanos, segundo o economista Bruno Corano, em entrevista à BM&C News.
“Essa combinação de movimentos nos ativos costuma ser típica de países em desenvolvimento. Ver isso nos Estados Unidos levanta questionamentos importantes sobre o atual momento do mercado”, afirmou.
Uma transição histórica da potência produtiva
Corano contextualizou que, após a Segunda Guerra Mundial, os EUA se tornaram a principal potência industrial do mundo, concentrando inovação, tecnologia e capacidade produtiva. No entanto, com o tempo, parte dessa estrutura foi transferida para países com mão de obra mais barata, como China e Vietnã.
“O país foi o grande exportador de conhecimento e tecnologia nas últimas décadas. Mas, com os custos de produção internos elevados, essa liderança foi sendo redistribuída”, explicou.
Déficits estruturais, o papel do dólar e a reação do mercado
Desde os anos 1970, os Estados Unidos passaram a registrar déficits recorrentes, especialmente em sua balança comercial. Mesmo assim, o dólar se consolidou como a principal moeda de reserva internacional, o que, para Corano, continua sendo um dos principais pilares de estabilidade do país.
“O euro não tem condições estruturais para assumir esse papel, e a China, apesar da força econômica, ainda é um regime comunista e fechado. Não há, hoje, uma alternativa viável à moeda americana no sistema global”, analisou.
Mercado busca respostas em meio à incerteza
Segundo Corano, há um sentimento de perplexidade entre grandes gestores e economistas diante da complexidade do atual cenário. Ele citou uma reunião recente em Nova York, que contou com a presença de mais de 60 das maiores instituições do mercado, como reflexo dessa inquietação.
“A conclusão dessa reunião foi quase unânime: ninguém está entendendo completamente o que está acontecendo. A guerra tarifária, as incertezas políticas e o comportamento dos ativos colocam o mercado em modo de espera”, relatou.