O ouro superou pela primeira vez a marca de US$ 3.500 por onça-troy na última segunda-feira (21), refletindo o aumento da aversão ao risco global diante de um novo episódio de tensão entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o Federal Reserve.
A valorização do metal ocorre em um momento em que a economia norte-americana enfrenta instabilidade política e incertezas sobre a condução da política monetária. Após semanas de críticas, Trump voltou a atacar o presidente do Fed, Jerome Powell, e sugeriu que o atual governo deveria substituí-lo.
Críticas de à Powell e os impactos no preço do Ouro
“O ‘atrasado’ Jerome Powell, do Fed, sempre chega ‘TARDE DEMAIS E ERRADO’”, escreveu Trump na rede social Truth Social, na última quinta-feira (17). O presidente defende que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) já deveria ter iniciado os cortes nos juros, que estão mantidos entre 4,25% e 4,50% ao ano nas últimas duas reuniões.
Na contramão das declarações de Trump, Powell afirmou que o Banco Central dos EUA seguirá focado em suas metas, mesmo diante de pressões políticas. Em discurso feito na quarta-feira (16), durante evento no Clube Econômico de Chicago, ele destacou que as “mudanças políticas significativas” promovidas por um novo governo poderiam desalinhar o Fed de seus objetivos estruturais.
Apesar da pressão, Powell declarou que não pretende renunciar ao cargo, mesmo se solicitado por um eventual novo presidente.
A escalada das tensões reforça o movimento de proteção de capital por parte dos investidores, com impacto direto nos mercados financeiros. A demanda por ativos considerados seguros, como o ouro, ganha força diante da incerteza política e da possível interferência na autonomia do banco central.
Incertezas políticas impacta preço do Ouro
Para o operador de mercado e comentarista da BM&C News, Francisco Alves, o avanço do ouro para níveis inéditos é uma resposta direta do mercado à combinação de incertezas políticas, fiscais e monetárias nos Estados Unidos. Segundo ele, a retórica de Donald Trump contra a atuação do Federal Reserve agrava a percepção de risco institucional, afetando diretamente a confiança de investidores.
“O mercado está precificando não apenas a possibilidade de interferência política na política monetária, mas também o risco de desorganização no processo decisório do Fed. Isso leva a uma migração natural para ativos de proteção, como o ouro, que tende a se valorizar em momentos de desconfiança sistêmica”, avaliou.
Alves ainda destaca que, com os juros estacionados e as críticas públicas ao banco central, cresce o temor de perda de credibilidade da autoridade monetária norte-americana, o que amplia a busca por alternativas seguras.