O mês de abril marcou a primeira saída expressiva de capital estrangeiro da Bolsa brasileira em 2025. Segundo o economista Alex André, em entrevista ao programa da BM&C News, o movimento reflete uma combinação de fatores macroeconômicos, especialmente os juros elevados no Brasil e a falta de avanços na política fiscal.
“Já ultrapassamos R$ 8,6 bilhões em saídas no mês. Isso praticamente anulou os ganhos obtidos com entradas nos três primeiros meses do ano, que somaram mais de R$ 10 bilhões”, afirmou o especialista. Com isso, o saldo acumulado de 2025 caiu para cerca de R$ 2 bilhões.
Juros altos desestimulam investimentos em ações
Na avaliação de André, a taxa básica de juros (Selic) continua sendo o principal obstáculo para o retorno do fluxo estrangeiro ao mercado de ações. “Quanto maior o juro, mais os investidores migram para a renda fixa. Isso desestimula não apenas o investimento em renda variável, mas também o empreendedorismo e a produtividade no país”, explicou.
Ele acrescenta que a saída de recursos também tem sido intensa entre os fundos de ações brasileiros, e que o volume já supera os resgates observados em todo o ano de 2024.
Sem perspectiva de IPOs enquanto cenário fiscal permanecer crítico
A instabilidade fiscal do governo brasileiro é outro ponto de preocupação citado por André. Para ele, a deterioração das contas públicas afasta o investidor internacional e impede o surgimento de novas ofertas públicas de ações (IPOs). “Não há ambiente para emissões enquanto o governo não apresentar uma trajetória fiscal mais sustentável”, destacou.
Ciclo de recuperação ainda depende de sinais concretos
Apesar do pessimismo atual, o economista vê espaço para uma retomada futura do apetite por ativos de risco. “Isso é cíclico. Quando o cenário mudar e houver uma queda estrutural nos juros, veremos o capital retornar. Mas quando voltar, será com muita seletividade — não haverá espaço para todos”, finalizou.