A escalada tarifária entre Estados Unidos e China entrou em um novo capítulo. Pequim anunciou nesta quarta-feira (9), aumento das tarifas para 84% sobre produtos dos EUA. O anúncio ocorreu após a Casa Branca elevar as tarifas sobre produtos chineses para 104%. As medidas aumentam ainda mais a tensão entre as duas maiores economias do mundo e acende alertas em todas as cadeias produtivas globais. Mais do que uma disputa comercial, a guerra de tarifas assume contornos geopolíticos e ameaça redesenhar o mapa do comércio internacional, com impactos diretos para países emergentes como o Brasil.
China mostra para o que veio
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o anuncio retaliatório da China sinaliza a disposição da China em se posicionar como um negociador de igual para igual com os Estados Unidos, diferentemente de outros países que já começaram a ceder às exigências americanas. Segundo ele, Pequim mantém uma postura firme para mostrar que tem força e relevância suficientes para adotar uma estratégia mais agressiva nas negociações, mesmo sabendo que o preço disso será a perda de crescimento econômico no curto prazo.
“A China tenta ‘bater o pé’ e mostrar que tem tamanho para fazer uma negociação bem agressiva com os americanos, algo que obviamente pode frear o crescimento da China e dos EUA ao longo desse ano, e com certeza teria reflexos no resto do mundo.” avalia Cruz.
Estratégia equivocada de Trump?
Já para o economista e sócio da Acqua Vero, Bruno Musa, o aumento das tarifas pelos Estados Unidos contra a China inaugura não apenas uma nova fase da guerra comercial, mas um movimento estratégico profundo de reindustrialização e defesa da hegemonia do dólar.
Segundo ele, o impacto imediato será a elevação dos preços para os consumidores americanos, já que muitos produtos importados da China se tornarão inviáveis ou mais caros, pressionando a inflação e reduzindo a atividade econômica.
“Os americanos devem enfrentar uma oferta menor de produtos internos, com uma diminuição da importação da China o que obviamente ocasiona maiores preços. Devemos ter uma redução da atividade econômica dos EUA e consequentemente uma aumento dos preços.” avalia o economista. Musa também destaca que “Trump quer manter o dólar como moeda global dominante, mas sem arcar com as consequências como o estímulo ao endividamento.”
O economista analisa as atitudes de Trump: “Ele quer, basicamente diminuir o déficit comercial nos países, pra diminuir o déficit em conta corrente (…) um erro de conceito que todos arcarão com essa diminuição da atividade econômica e do comércio global.“
Além disso, ele avaliou também os impactos nos mercados globais. “Eu espero e torço para não ter confronto, para sentarem na mesa e todos baixarem as tarifas. Que seja uma forma de negociar mas é uma negociação que está custando já alguns trilhões em valor de mercado né?“
O Brasil no meio do ‘fogo cruzado’
Para o mestre em Direito Internacional Manuel Furriela, a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China pode, paradoxalmente, abrir janelas de oportunidade para o Brasil.
“Qualquer tipo de retaliação aplicada por qualquer país aos Estados Unidos, principalmente a China, pode abrir oportunidades para que o Brasil substitua as exportações americanas, principalmente para produtos originários do agronegócio.” avalia o Furriela.
No entanto, Furriela alerta que, se o conflito continuar escalando, os impactos econômicos serão inevitavelmente globais e prejudiciais a todas as economias. “Em algum momento, as duas potências terão que sentar à mesa e buscar uma composição, porque os Estados Unidos não abrirão mão de reduzir seu déficit comercial com a China, nem da chance de conter o avanço do poderio chinês, tanto econômico quanto militar e geopolítico“, pondera.
O especialista sinaliza que mesmo com a escalada retaliatória, “uma composição vai acontecer até mesmo por pelo temor dos impactos econômicos em escala escala global.” avaliou.