A guerra tarifária com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos preocupa o mercado internacional — e, especialmente, o Brasil. Em entrevista à BM&C News, o especialista em análise macro Fábio Fares afirmou que o país tem mais a perder do que a ganhar nesse cenário, dada a estrutura atual do comércio bilateral com os norte-americanos.
Segundo ele, mesmo com o viés político pesando nos discursos públicos, as negociações reais acontecem nos bastidores, onde pragmatismo e interesses econômicos falam mais alto. “O presidente Lula, por perfil político, tende a adotar um discurso de oposição às ideias de Trump. Mas todos sabem que, na prática, o que importa é o que se negocia fora dos holofotes. E, nesse ponto, o Brasil precisa agir com inteligência”, afirmou Fares.
A preocupação central é com a disparidade entre o que o Brasil cobra em tarifas sobre produtos importados e o que paga ao exportar para os Estados Unidos. “O Brasil cobra muito mais dos americanos do que paga. Se Trump resolver retaliar com tarifas elevadas, nosso setor exportador será diretamente afetado”, explicou.
Fares lembrou o exemplo recente da Índia, que anunciou a isenção de tarifas sobre diversos produtos americanos como forma de neutralizar possíveis retaliações de Trump. Para ele, o Brasil precisa observar esse tipo de movimento e se preparar para negociar. “O Trump quer um dólar mais competitivo e uma indústria mais protegida. Isso passa, necessariamente, por medidas que podem prejudicar os grandes exportadores globais — e o Brasil está entre eles”, destacou.
O especialista reforça que a guerra tarifária em si “não interessa a ninguém”, mas que a postura combativa do ex-presidente americano exige dos parceiros comerciais uma estratégia firme. “É hora de calcular riscos, simular cenários e buscar acordos inteligentes. O Brasil precisa escolher se quer apenas discursar ou proteger de fato sua base exportadora”, concluiu Fares.
