O recente anúncio de um cessar-fogo de 30 dias na Ucrânia gerou reações divergentes na comunidade internacional. Para o economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena, a trégua não representa uma vitória ucraniana, mas sim um movimento estratégico dos Estados Unidos, que usaram sua influência para pressionar Kiev a aceitar o acordo. Segundo Lucena, a decisão reflete o enfraquecimento da Ucrânia no campo de batalha e a necessidade dos EUA de reorganizar sua posição geopolítica.
Ucrânia sem apoio militar dos EUA
O especialista destaca que a retirada do apoio militar direto dos Estados Unidos permitiu o avanço russo sobre áreas estrategicamente valiosas, deixando a Ucrânia em uma posição vulnerável para negociar. “A partir do momento que os EUA retiraram o apoio militar, as áreas mais ricas começaram a cair nas mãos da Rússia. Se perdesse mais territórios, a Ucrânia teria pouca margem de negociação“, explica. Para ele, a pressão americana foi decisiva para que Kiev assinasse rapidamente o acordo de exploração mineral, garantindo benefícios para os EUA antes de buscar uma solução definitiva para o conflito.
Os próximos passos
Agora, Lucena acredita que os Estados Unidos usarão a mesma estratégia para pressionar a Rússia a ceder em alguns pontos das negociações. O grande impasse, segundo ele, é definir os termos desse possível acordo de paz. “A Ucrânia vai perder 20% do seu território? E, mesmo que perca, quais são os mecanismos que garantirão que a Rússia não voltará a invadir?“, questiona.
O impacto do cessar-fogo também levanta preocupações sobre o rearmamento europeu. Para Lucena, a incerteza quanto à estabilidade da região deve acelerar os investimentos militares dos países europeus, que já enxergam a guerra como um divisor de águas para a segurança do continente. “O que a gente vai assistir de uma maneira muito clara é o rearmamento da Europa se tornando cada vez mais uma realidade“, conclui.
Apesar da trégua momentânea, o futuro do conflito ainda está em aberto. Para Lucena, a pausa no combate não significa paz, mas sim um novo estágio da disputa geopolítica, onde os interesses das grandes potências continuam sendo prioridade sobre as demandas da própria Ucrânia.