Nos últimos anos, o mercado de fusões e aquisições (M&A) tem passado por uma transformação significativa. O aumento das taxas de juros, a seletividade dos investidores e a incerteza econômica alteraram a lógica das transações. “As empresas começaram a olhar de forma mais estratégica para o M&A, integrando-o ao planejamento de crescimento”, afirmou Alexandre Cracovsky, vice-presidente da Advisia Investimentos, em entrevista ao Mercado & Beyond.
Menos IPOs e mais desafios para grandes negócios
O mercado de IPOs no Brasil vive um período de estagnação. “Em 2021, tivemos 70 IPOs no Brasil, algo que não acontecia há mais de 20 anos. Já entre 2022 e 2024, tivemos zero IPOs”, destacou Cracovsky. Com menos empresas abrindo capital e captando recursos, o impacto sobre as fusões e aquisições foi inevitável. A falta de novos players com dinheiro disponível restringiu grandes transações, levando a um período de retração.
Apesar do cenário desafiador, alguns setores mantêm um ritmo acelerado de consolidação. “A tecnologia continua sendo um setor forte, principalmente as fintechs e martechs“, apontou Cracovsky. Além disso, segmentos como saúde e indústria têm registrado transações estratégicas para fortalecer sua posição de mercado.
O impacto da alavancagem e as dificuldades financeiras das empresas
A alta alavancagem tem sido um fator determinante para o aumento das fusões e aquisições. “Empresas que contraíram dívidas em períodos de juros baixos agora buscam reestruturar seus passivos para atravessar os próximos anos”, explicou. A necessidade de repactuação de dívidas tem impulsionado transações em busca de maior eficiência financeira.
Segundo estudos, entre 70% e 90% das fusões e aquisições falham. “Os principais motivos são avaliações incorretas de preço e falhas na integração”, disse Cracovsky. A diligência inadequada pode resultar em surpresas indesejadas, como passivos trabalhistas ou riscos regulatórios ocultos. Já problemas culturais entre empresas adquiridas podem dificultar a execução da estratégia pós-negociação.
O papel da regulação e a influência do CADE
Transações de grande porte passam pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). “Qualquer compra de empresa que fatura mais de R$ 75 milhões por um grupo com faturamento superior a R$ 750 milhões precisa ser analisada”, explicou. Fusões entre concorrentes diretos, como o caso da Gol e da Azul, demandam processos regulatórios mais longos e criteriosos para evitar concentração excessiva de mercado.
As grandes empresas de tecnologia utilizam aquisições para acelerar sua inovação. “Nos últimos 10 anos, Alphabet, Microsoft e Apple fizeram mais de 90 aquisições voltadas para inteligência artificial”, observou Cracovsky. Esse movimento reforça a estratégia de expansão por meio da compra de talentos e soluções tecnológicas já desenvolvidas.
Perspectivas para fusões e aquisições em 2025
Com a expectativa de redução dos juros, o mercado pode entrar em uma nova fase de recuperação. “O setor de saúde deve continuar crescendo, assim como a tecnologia e a indústria”, projetou. A reestruturação de empresas e a busca por sinergias estratégicas continuarão sendo motores de fusões e aquisições nos próximos anos.