A Justiça aceitou nesta quarta-feira (14) o pedido de recuperação judicial da Bombril, uma das marcas mais tradicionais do setor de higiene e limpeza no Brasil. A decisão da 1ª Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem determina a suspensão de todas as ações e execuções contra o Grupo Bombril, além da nomeação de um administrador judicial, que será responsável por acompanhar o processo.
Agora, a empresa tem um prazo de 60 dias para apresentar um plano detalhado de recuperação judicial, que deverá estabelecer como a companhia pretende reestruturar suas finanças e garantir a continuidade das operações.
A decisão dá um fôlego à Bombril, que busca renegociar sua dívida de R$ 2,3 bilhões e evitar um colapso financeiro.
Entenda o caso: dívida bilionária e crise financeira da Bombril
A Bombril entrou com o pedido de recuperação judicial no início da semana, alegando que a medida era necessária para lidar com dívidas fiscais bilionárias herdadas do passado. O principal motivo do endividamento vem de autuações da Receita Federal relacionadas à falta de recolhimento de tributos entre 1998 e 2001, período em que a empresa estava sob controle do grupo italiano Cragnotti & Partners.
As autuações estão ligadas a operações de aquisição de títulos de dívida estrangeiros (T-Bills) realizadas na época. Após uma decisão judicial desfavorável recente, a Bombril optou por reconhecer integralmente essas dívidas e buscar proteção judicial para tentar equacionar seus passivos.
Impacto e riscos para a empresa
A Bombril enfrenta um cenário delicado, com desafios como:
✔ Risco de perda de fornecedores e parceiros comerciais, que podem reavaliar a capacidade da empresa de honrar compromissos;
✔ Vencimento antecipado de dívidas, aumentando a pressão sobre o fluxo de caixa;
✔ Possível descontinuidade de operações, caso não consiga reorganizar suas finanças.
A empresa afirma que a recuperação judicial será essencial para preservar sua operação, reestruturar seu passivo e garantir a continuidade dos negócios.
Situação financeira preocupante
Antes do pedido de recuperação judicial, os balanços da Bombril já indicavam dificuldades:
- Lucro líquido acumulado até setembro de 2024: R$ 56,4 milhões (queda de 33% em relação ao ano anterior);
- EBITDA (geração de caixa): R$ 181,2 milhões (redução de 4% na comparação anual);
- Caixa e equivalentes: R$ 102,4 milhões, muito abaixo da dívida total de R$ 2,3 bilhões.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a dívida da empresa equivale a 22 vezes o valor disponível em caixa.
O portfólio da Bombril e o desafio de manter a marca no mercado
Apesar da crise financeira, a Bombril segue sendo uma marca reconhecida no Brasil, com um portfólio de 16 marcas de produtos de higiene e limpeza, incluindo:
- Mon Bijou (amaciante);
- Limpol (detergente);
- Sapólio Radium (limpeza pesada).
A empresa agora precisa equilibrar reestruturação financeira e manutenção da operação, garantindo a confiança do mercado e dos consumidores.
O que esperar:
Com o deferimento da recuperação judicial, a Bombril terá que apresentar um plano detalhado em até 60 dias, indicando como pretende negociar suas dívidas, reestruturar suas operações e recuperar sua saúde financeira.
O mercado agora aguarda para ver se a empresa conseguirá atrair investidores e parceiros para viabilizar um novo ciclo de crescimento e evitar que uma das marcas mais icônicas do Brasil desapareça do setor.