Nos primeiros dois meses do ano, o dólar apresentou oscilações frente ao real. Em janeiro, a moeda americana caiu 5,92%, enquanto em fevereiro teve uma leve alta de 0,3%. No acumulado do ano, a desvalorização do dólar é de 5,54%.
Lucas Tavares, especialista em câmbio na WIT Exchange, avalia que fevereiro foi um período de volatilidade. O dólar iniciou o mês a R$ 5,87, mantendo o movimento de queda iniciado em janeiro. O menor fechamento ocorreu em 18 de fevereiro, quando a cotação chegou a R$ 5,68. Nos últimos dias do mês, no entanto, o dólar voltou a ganhar força frente ao real.
Segundo Tavares, os principais fatores que contribuíram para a queda foram a expectativa de que as medidas do Banco Central fossem suficientes para conter a inflação e um fluxo cambial com menor saída líquida. No entanto, o IPCA-15 registrou a maior alta para fevereiro desde 2016, e o número de novos empregos superou as expectativas, indicando uma economia aquecida, o que elevou os riscos inflacionários e a possibilidade de juros mais altos. No cenário externo, as tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos do México e do Canadá, com início previsto para 4 de março, também impactaram o mercado cambial.
As oscilações no câmbio refletiram em setores da economia brasileira. As importações recuaram, e a escalada do dólar no final do mês gerou impactos adicionais. Tavares destaca que fevereiro coincide com o Ano Novo Chinês, período em que as importações do país asiático praticamente param por cerca de 15 dias. Por outro lado, as exportações registraram bom desempenho, contribuindo para o superávit da balança comercial.
Sobre o comportamento da moeda em março, Tavares afirma que o real está suscetível a diversos fatores. O mercado trabalha com um piso de R$ 5,70 em caso de queda e R$ 5,90 em caso de alta. A sinalização de medidas para conter a inflação ajudou o real a se valorizar em fevereiro, mas os últimos dados de inflação e emprego sugerem que não há previsão de um movimento de queda expressivo do dólar no momento.

O especialista também aponta que o Banco Central deve aumentar a taxa Selic para cerca de 14,25% em março, como tentativa de conter a inflação. O mercado aguarda a definição do Comitê de Política Monetária (Copom), que pode optar por uma alta de 1 ponto percentual ou por um aumento ainda maior, dependendo da análise do IPCA-15. No cenário internacional, o Federal Reserve (Fed) deve manter as taxas de juros inalteradas, devido à persistência da inflação nos Estados Unidos.
Para quem viaja ao exterior ou realiza compras em moeda estrangeira, Tavares destaca que o dólar turismo tem uma cotação mais elevada devido à incidência de impostos e custos operacionais. Atualmente, a moeda é negociada a R$ 5,967. Como alternativa, é possível utilizar contas globais para converter reais em dólares com base na cotação comercial, o que pode representar uma economia para os consumidores.