O Banco Central reconheceu que as expectativas de inflação subiram significativamente em todos os prazos, impulsionadas pela alta nos preços dos alimentos – afetados pela estiagem e pelo ciclo do boi – e pela recente valorização do dólar, que pressiona os preços dos produtos industrializados. Segundo a ata do Copom, essa pressão inflacionária deve se prolongar devido a mecanismos inerciais da economia brasileira. Na última reunião, a Selic subiu para 13,25% ao ano, marcando a quarta alta consecutiva, e o mercado já projeta novos aumentos, podendo superar 15% em 2025. Foi a primeira decisão do Copom sob comando de Gabriel Galípolo, com maioria de diretores indicados pelo presidente Lula.
Inflação segue sendo calo no pé
Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o Banco Central foi superficial ao abordar a atividade econômica no comunicado, especialmente diante da mudança de tom na ata. Ele destaca que, apesar de mencionar o risco de uma desaceleração econômica mais forte do que o esperado, a autoridade monetária não detalhou adequadamente os impactos dessa possibilidade sobre a inflação. Sanchez destaca que “diante do parágrafo prospectivo e comunicação ainda incerta sobre a extensão do ciclo de alta, mantém sua projeção de Selic em 15% ao final do ano, com juros elevados por um período prolongado.”
Já o economista Alexandre Espírito Santo, destaca que “o tom da ata do Copom foi adequado ao cenário atual de incerteza e desancoragem. Ele destaca que o Banco Central deixou claro o risco inflacionário persistente, impulsionado por fatores como o câmbio, o hiato do produto e as expectativas de mercado, justificando a necessidade de manter a política monetária restritiva”. E conclui que “no lado oposto, há sinais iniciais de desaceleração da economia, mas ainda sem convicção suficiente para mudar a estratégia”.
Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, “a ata do Copom reforçou a preocupação com o cenário externo, destacando os riscos da política protecionista e tarifária dos Estados Unidos, especialmente sob uma possível nova gestão de Donald Trump. No cenário doméstico, chamou atenção o tom repetitivo sobre um ambiente adverso, com indicadores de curto prazo ainda preocupantes – como a inflação corrente e o mercado de trabalho mais aquecido do que o esperado”. Ele também alerta para os desafios de médio prazo, com expectativas de inflação futuras pressionadas e um hiato do produto ainda positivo. Diante desse contexto, Agostini avalia que a política monetária precisará ser ainda mais contracionista, projetando ao menos mais duas altas consecutivas de 100 pontos-base na taxa Selic, dado que os juros reais já estão bem acima do nível neutro.