Garantir a longevidade de uma empresa no Brasil vai além do crescimento e da gestão diária. Segundo Fernando Brito, do Grupo Maldivas, a sucessão empresarial é um tema pouco discutido pelos empresários, mas essencial para evitar conflitos e manter a operação ativa em caso de ausência de um sócio.
“O empresário está focado na expansão do negócio, na margem de lucro e na gestão de equipe, mas pouco pensa no que acontece se um sócio sair por invalidez ou falecimento”, explicou Brito.
Contrato social mal estruturado pode inviabilizar a sucessão
De acordo com Brito, cerca de 90% a 95% dos contratos sociais seguem modelos padrões que não preveem a sucessão empresarial de forma adequada. Sem um planejamento estruturado, muitas empresas podem enfrentar disputas societárias ou até serem dissolvidas.
“A maioria dos contratos sociais prevê apenas um prazo para a dissolução da empresa em caso de falecimento de um sócio. Isso significa que, na prática, não há um plano para continuidade do negócio”, destacou.
Para evitar esse problema, é fundamental que os empresários revisem seus contratos sociais, garantindo que haja uma cláusula de recompra de cotas e que os herdeiros não entrem automaticamente na sociedade sem preparo adequado.
Valuation: o primeiro passo para um plano sucessório eficiente
Saber quanto a empresa realmente vale é essencial para qualquer planejamento sucessório. Segundo Brito, muitas empresas sequer realizam um valuation antes de discutir a sucessão, o que dificulta a definição de estratégias para a transferência de cotas.
“Se a empresa não sabe quanto vale, como pode se preparar para a saída de um sócio? O valuation é o primeiro passo para estruturar qualquer plano sucessório”, afirmou.
Além disso, é importante que o contrato social contenha uma lógica de valuation flexível, garantindo que o valor das cotas seja atualizado conforme a realidade do mercado. “Se o contrato fixa um valor e a empresa cresce, os herdeiros podem sair prejudicados”, alertou Brito.
A falta de liquidez pode comprometer a continuidade do negócio
Outro ponto crítico do planejamento sucessório é a liquidez para recompra de cotas. Empresas que não possuem reservas financeiras podem enfrentar dificuldades para adquirir as participações de herdeiros, gerando disputas internas.
“Sem dinheiro em caixa, a empresa pode precisar contrair empréstimos, descapitalizando-se ou até comprometendo seu valuation”, explicou Brito.
Uma solução para esse problema é o uso de seguros de vida empresariais, nos quais a empresa figura como beneficiária. Assim, em caso de falecimento de um sócio, o valor do seguro pode ser usado para a recompra de cotas, evitando impactos financeiros diretos na operação.
Conflitos entre sócios e herdeiros ameaçam a estabilidade da empresa
Um dos principais desafios da sucessão empresarial está na entrada de herdeiros que não possuem conhecimento sobre o negócio.
“Muitas vezes, os sócios desejam que seus filhos assumam a empresa, mas esses herdeiros não têm interesse ou preparo para isso. Já vimos situações onde sócios remanescentes não queriam a entrada de um novo membro sem experiência”, contou Brito.
Segundo ele, nesses casos, a melhor solução é determinar previamente quais herdeiros terão participação ativa e como será feita a distribuição das cotas, evitando disputas internas.
Erros comuns no planejamento sucessório e como evitá-los
Brito destacou dois erros frequentes na sucessão empresarial:
- Beneficiário do seguro de vida: Escolher a empresa como beneficiária pode garantir uma transição mais segura, ainda que haja uma tributação sobre o valor recebido. “Se o herdeiro recebe a indenização diretamente, ele pode se recusar a vender suas cotas pelo valor definido no valuation, criando entraves jurídicos”, explicou.
- Contrato social engessado: Definir um valor fixo no contrato pode gerar distorções ao longo do tempo. “Se a empresa cresce e o valor das cotas aumenta, um herdeiro pode receber menos do que realmente vale sua participação”, alertou.
Para evitar esses erros, Brito recomenda que as empresas revisem seus contratos regularmente e adotem mecanismos financeiros que garantam a liquidez necessária para uma sucessão tranquila.
Empresas que não se preparam correm risco de desaparecer
Estudos indicam que 70% das empresas brasileiras não sobrevivem à segunda geração e apenas 5% permanecem ativas ao longo de várias sucessões. Segundo Brito, isso se deve à falta de planejamento sucessório e de governança corporativa eficiente.
“Quando a sucessão não é bem estruturada, a empresa pode perder valor, enfrentar disputas judiciais e até ser fechada”, afirmou.
Para evitar esse cenário, Brito recomenda que empresários iniciem o planejamento sucessório o quanto antes, garantindo que todas as regras estejam claras e documentadas no contrato social.