A nomeação de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central trouxe à tona discussões sobre a direção da política monetária no Brasil. Enquanto alguns analistas veem a continuidade de juros elevados como essencial para ancorar expectativas inflacionárias, outros alertam para o impacto de possíveis pressões políticas sobre a autonomia da instituição.
“Manter juros altos é essencial para ancorar as expectativas de inflação e preservar a credibilidade do Banco Central, elementos fundamentais para o crescimento econômico sustentável do Brasil e que influenciam o fluxo estrangeiro, afetando o valor da moeda brasileira“, afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
O desafio de Galípolo estará em equilibrar as demandas de uma economia que enfrenta pressões inflacionárias com as expectativas de um governo que busca flexibilização de políticas para estimular o crescimento.
O Mercado imobiliário na mira
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, pontua que as decisões de Galípolo impactarão diretamente o mercado imobiliário: “Se seguir uma linha mais alinhada ao governo, pode haver uma pressão para reduzir os juros mais rapidamente, o que impulsionaria o crédito e facilitaria o financiamento imobiliário. No curto prazo, isso poderia aquecer o mercado e valorizar os imóveis. Por outro lado, uma postura mais técnica, mantendo juros altos, desestimularia o crédito, mas manteria os preços dos imóveis mais acessíveis.”
André Matos, CEO da MA7 Negócios, avalia que a manutenção da Selic em patamares elevados gera um impacto significativo no mercado de crédito. “Embora a medida ajude a ancorar as expectativas de inflação e preservar a credibilidade do Banco Central, também eleva o custo do crédito, pressionando ainda mais empresas e famílias endividadas. Esse cenário pode aumentar a inadimplência e criar oportunidades para gestores especializados em crédito estressado.”
João Kepler, CEO da Equity Fund Group, analisa o impacto para o setor de private equity: “Com a Selic elevada, o custo de capital mais alto reduz a liquidez e dificulta a captação de recursos. Contudo, empresas endividadas tornam-se alvos atrativos para aquisição e reestruturação. Fundos de private equity podem capturar valor no longo prazo, especialmente em setores resilientes.”
Expectativas sobre a decisão de Galípolo: autonomia x alinhamento político
Volnei Eyng, CEO da Multiplike, destaca que o mercado precifica as expectativas para o Banco Central: “Galípolo terá o desafio de equilibrar a independência do Banco Central com as expectativas do governo. A previsibilidade é sempre o melhor caminho, pois qualquer sinalização contrária pode aumentar a incerteza e encarecer a captação de recursos para fundos de crédito.”
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, alerta para os reflexos no setor de serviços: “Se a política monetária for mais expansionista, juros baixos podem estimular o consumo e o crédito, beneficiando segmentos como comércio e turismo. Contudo, se a credibilidade monetária for comprometida, o risco de fuga de capital e desvalorização do real pode trazer pressões inflacionárias.”