O índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação no Brasil, encerrou 2024 com uma alta acumulada de 4,83%, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este resultado ficou acima do teto da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual. A meta foi superada por 0,33 ponto percentual.
Em dezembro, o IPCA registrou aumento de 0,52%, uma aceleração em relação ao índice de 0,39% observado em novembro. Este desempenho ficou levemente abaixo das projeções de mercado, que estimavam altas de 0,57% no mês e 4,88% no acumulado de 12 meses, segundo levantamento da Reuters.
Segundo análise de Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, o IPCA veio um pouco abaixo das expectativas, que era um número mais próximo de 0,53% e veio 0,52%.
“A gente já esperava uma aceleração do número de novembro para dezembro. Só para lembrar, o IPCA de novembro foi 0,39% e a gente já imaginava essa aceleração, principalmente aqui em função de preços de alimentos”, explicou.
Alimentação e bebidas lideram a pressão inflacionária
O grupo de Alimentos e Bebidas foi o principal responsável pela alta do IPCA em 2024, acumulando aumento de 7,69% no ano e contribuindo com 1,63 pontos percentuais para o índice geral. Produtos como o café moído, que subiu expressivos 39,60%, exerceram forte pressão nos custos das famílias brasileiras.
Entre os 377 itens analisados pelo IBGE, a gasolina foi o que teve maior impacto individual na inflação, representando 0,48 pontos percentuais do IPCA. Com uma alta acumulada de 9,71% no ano, o combustível reforçou o peso do grupo de Transportes na composição inflacionária.
O setor de Saúde e Cuidados Pessoais também não passou despercebido, registrando alta de 6,09% no ano e contribuindo com 0,81 pontos percentuais para o índice geral. Subitens como planos de saúde, que tiveram aumento de 7,87%, se destacaram. Refeições fora de casa também pesaram no bolso, com aumento de 5,70% em 12 meses.
Segundo análise de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o resultado vai influenciar as decisões do Banco Central para janeiro. “Acho que isso ainda não é uma grande pressão, mas ao mesmo tempo, a gente deve ter mais dessas pessoas puxando para cima suas projeções de inflação de 2025 e isso pode fazer com que o BC suba ainda mais de urso, a gente já está vendo as pessoas falando em 15,5, daqui a pouco 16, deve ser realmente um ano que pelo menos em algum ponto atinja um número nominal muito alto, mas tudo indo bem ao longo do ano, no final dá para começar alguma coisa de corte. Se as coisas não forem bem, a gente vai ver taxas ainda mais altas”, finaliza.
Nem tudo foi alta: alguns subitens ajudaram a reduzir a inflação no ano. Passagens aéreas registraram queda expressiva de 22,20%, contribuindo com -0,21 pontos percentuais para o índice geral. Itens como tomate e cebola também recuaram em 2024, com reduções de 25,86% e 35,31%, respectivamente.
Análise histórica: um dos piores desempenhos do sistema de metas
Nos 26 anos do sistema de metas de inflação, o período entre 2021 e 2024 se destacou negativamente, marcando quatro anos consecutivos de não cumprimento das metas. Este desempenho superou o período crítico de 2001 a 2003, quando a inflação foi impulsionada por fatores como apagão elétrico e maxidesvalorização do real. Segundo dados da tabela histórica, o IPCA efetivo de 2024 excedeu o teto da meta em 0,33 ponto percentual, consolidando um cenário desafiador para a economia.
Ano | IPCA Meta CMN | Mudança (CMN) | Meta Ajustada | IPCA efetivo | Tolerância | Cumprimento da Meta | PIB | Juro Nominal (SELIC) | Juro Real |
2001 | 4,0% | – | – | 7,67% | 2,0 p.p. | não cumpriu | 1,4% | 17,3% | 9,0% |
2002 | 3,50% | – | – | 12,53% | 2,0 p.p. | não cumpriu | 3,1% | 19,2% | 5,9% |
2003 | 3,25% | 4,00% (1) | 8,5% | 9,30% | 2,5 p.p. | não cumpriu | 1,1% | 23,3% | 12,8% |
MÉDIA 2001-2003 | 3,6% | – | – | 9,83% | – | – | 1,9% | 19,9% | 9,2% |
2021 | 3,75% | – | – | 10,06% | 1,5 p.p. | não cumpriu | 4,8% | 4,4% | -5,1% |
2022 | 3,50% | – | – | 5,79% | 1,5 p.p. | não cumpriu | 3,0% | 12,3% | 6,2% |
2023 | 3,25% | – | – | 4,62% | 1,5 p.p. | não cumpriu | 3,2% | 13,0% | 8,0% |
2024 | 3,00% | – | – | 4,83% | 1,5 p.p. | não cumpriu | 3,5% (*) | 10,8% | 5,7% |
MÉDIA 2021-2024 | 3,4% | – | – | 6,32% | – | – | 3,7% | 10,2% | 3,7% |