Nesta sexta-feira (20) o Ibovespa fechou no azul com investidores acompanhando a votação do pacote fiscal, que já está em reta final no Congresso, enquanto monitoram falas de Campos Neto e do presidente Lula. Lá fora, o dia é foi marcado por dados de inflação dos EUA.
Segundo análise de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, o Ibovespa trabalha de forma positiva, mas enfrenta uma jornada de volatilidade, resultado de um cenário misto, na minha visão, envolvendo fatores domésticos e internacionais. No âmbito nacional, o avanço do pacote fiscal no Congresso foi bem recebido, mas a desidratação das medidas gera incerteza sobre a capacidade do governo de cumprir metas fiscais, o que mantém o mercado cauteloso. Além disso, o vencimento de opções sobre ações contribuiu para as movimentações.
No cenário externo, o risco de paralisação do governo americano adicionou um tom de aversão ao risco. Contudo, a divulgação do índice PCE nos Estados Unidos, que veio abaixo das expectativas, trouxe alívio ao mercado internacional, favorecendo tanto as bolsas no exterior quanto local. Ainda assim, o Ibovespa reflete a combinação de incertezas fiscais e o clima de fim de ano, com o mercado adotando uma postura mais conservadora. Acredito que esse contexto explica a tentativa do índice de se manter acima da marca dos 121 mil pontos, em meio as realizações da curva de Juro e cambio.
O dólar e os juros recuam hoje devido a uma combinação de fatores no cenário econômico. Primeiramente, o Banco Central do Brasil intensificou suas intervenções no mercado cambial, promovendo leilões de venda de moeda à vista, injetando US$ 3 bilhões, e realizando operações de linha, com um total de US$ 16 bilhões em ações desde 12 de dezembro. Essas ações ajudaram a corrigir disfunções no câmbio e aliviaram a pressão sobre o real.
Além disso, a aprovação parcial do pacote fiscal no Congresso, mesmo que com mudanças que diminuíram seu impacto, trouxe alívio momentâneo ao mercado, acalmando os ânimos. No entanto, o efeito foi mais simbólico do que substancial, já que o pacote foi considerado insuficiente para equilibrar as contas públicas de forma duradoura. No cenário externo, a queda nos rendimentos dos Treasuries e no índice do dólar (DXY) contribuiu para uma maior demanda por moedas emergentes, como o real. Dados mais fracos do PCE nos Estados Unidos – com inflação, consumo e renda abaixo das expectativas – também ajudaram a diminuir a pressão sobre o dólar, beneficiando o real.
Para os juros, o alívio no câmbio e a percepção de que o Banco Central está agindo para conter a inflação ajudaram a reduzir a pressão sobre as taxas futuras. Contudo, o mercado permanece cético quanto à sustentabilidade das medidas fiscais adotadas, e a sensação de que o risco de dominância fiscal persiste pode voltar a pressionar os juros caso o governo não adote ações mais substanciais e eficazes.
Entre os destaques de queda, temos as ações de empresas exportadoras, como Weg e JBS, que figuraram entre as maiores quedas do Ibovespa. Esse movimento está diretamente ligado ao enfraquecimento do dólar, que caiu. Empresas com faturamento dolarizado, como essas, são impactadas negativamente pela redução da moeda americana, uma vez que a conversão de suas receitas para o real resulta em valores menores. O Banco Central vem realizando leilões cambiais, e a aprovação do pacote fiscal também influencia esse cenário, gerando maior pressão no câmbio e prejudicando as exportadoras.
Entre os destaques de alta, por outro lado, temos as ações do setor cíclico, como Hypera, Cogna e Assaí, que dominaram a ponta positiva do Ibovespa. Esse movimento reflete uma recuperação após uma queda recente (sell-off), com o vencimento de opções sobre ações intensificando a volatilidade do mercado. Embora o ambiente de juros futuros mais altos traga uma pressão sobre alguns setores, essas ações se beneficiaram da maior expectativa de recuperação econômica e de consumo no curto prazo.
Na próxima semana, o mercado continuará monitorando de perto as movimentações fiscais e monetárias, especialmente no Brasil, onde as expectativas sobre novos cortes de gastos podem influenciar a trajetória do câmbio e dos juros. O impacto das intervenções do Banco Central e o possível cenário fiscal continuarão sendo fundamentais para a estabilização ou não da moeda brasileira. Já no cenário internacional, a evolução do impasse orçamentário nos EUA e os dados econômicos globais podem trazer mais volatilidade aos mercados.
Confira abaixo os dados de fechamento do Ibovespa e demais índices:
- Ibovespa: 122.102,15 (+0,75%)
- S&P 500: 5.931,09 (+1,09%)
- Nasdaq: 19.572,60 (+1,03%)
- Dow Jones: 42.841,67 (+1,18%)
- Dólar: R$ 6,07 (-0,84%)
- Euro: R$ 6,34 (-0,04%)