O mercado repercutiu nesta quinta-feira (19) as previsões do Banco Central para inflação e outros indicadores, que foram divulgadas no Relatório Trimestral de Inflação. Além disso, os investidores acompanharam o PIB dos Estados Unidos e a decisão monetária do Reino Unido.
Segundo análise de Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, o Ibovespa teve um dia de alívio após uma semana difícil para os ativos de risco brasileiros. Esse movimento ocorre um dia após a decisão de taxa de juros nos Estados Unidos, em que houve uma redução de 0,25% e a sinalização de que o ciclo de cortes nos juros por lá pode ter chegado ao fim.
Além disso, não está descartado pelos membros do FED um possível aumento das taxas, dependendo de como forem os primeiros meses do novo governo do presidente Donald Trump, o que também causa tensão nos mercados.
Era esperado que um aumento no diferencial de juros entre Brasil e EUA pudesse atrair mais recursos (dólar) para o Brasil, tanto para renda fixa quanto para renda variável, levando a uma possível queda no dólar e nas curvas de juros. Porém, o cenário torna-se mais complexo à medida que o FED sinaliza não apenas uma possível pausa nos cortes de juros, mas até uma retomada das altas, se necessário.
Somado a isso, o fator Donald Trump traz mais incertezas, fazendo com que investidores recalculem suas estratégias, optando por permanecer ou migrar seus recursos para a sólida economia americana. Isso deixa o Brasil como uma opção secundária, a não ser que um prêmio maior seja oferecido. Por esse motivo, vimos um forte movimento de alta nos contratos futuros de juros (DI) e uma pequena correção no mercado hoje.
Não acredito que as intervenções no câmbio realizadas pelo Banco Central tenham tido qualquer efeito na precificação da moeda. Inclusive, o próprio presidente do Banco Central, RCN, deixou claro em entrevista que esse não era o objetivo. O intuito era apenas oferecer liquidez para atender a uma demanda pontual, já que, no final do ano, muitas empresas fazem remessas de lucros e dividendos para o exterior, necessitando comprar dólares.
Em uma semana marcada por quedas no mercado de ações, não houve nenhum fundamento que sustentasse os ativos. Vale lembrar que os resultados atuais das empresas brasileiras estão, em geral, bastante positivos. Não haveria razão para grandes realizações neste final de ano, exceto pela completa incompetência do governo em apresentar medidas efetivas de corte e controle de gastos.
Por isso, o investidor tira o foco do presente e olha para o futuro. Afinal, se a perspectiva é de juros em 14% ou 15% “livres de risco”, por que optar por renda variável? Esse contexto gera uma verdadeira gangorra no mercado acionário. As maiores altas de um dia podem ser seguidas pelas maiores quedas no dia seguinte, sem motivos específicos.
Hoje, vimos as empresas mais penalizadas durante a semana apresentarem um dia de recuperação, enquanto as maiores quedas recaíram sobre empresas mais resilientes ou beneficiadas pela alta do dólar.
Acredito que, nas próximas semanas, o mercado terá cada vez menos volume de negociações devido à proximidade do final do ano, resultando em movimentos aleatórios e descolados de fundamentos. Com a diminuição do volume, pode haver mais espaço para especulação em ativos menos líquidos. Entretanto, como sempre digo, para o investidor de longo prazo em renda variável, todo e qualquer recuo pode trazer grandes oportunidades.
Confira abaixo os dados de fechamento do Ibovespa e demais índices:
- Ibovespa: 121.187,91 (+0,34%)
- S&P 500: 5.867,10 (-0,09%)
- Nasdaq: 19.372,77 (-0,10%)
- Dow Jones: 42.342,67 (+0,04%)
- Dólar: R$ 6,12 (-2,27%)
- Euro: R$ 6,34 (-2,49%)