Muitos investidores têm demonstrado interesse em entrar no mercado de geração de energia fotovoltaica, principalmente na geração distribuída, onde os consumidores são responsáveis por gerar sua própria eletricidade, parte dela para consumo próprio, e o restante para compensação, através de contratos de locação de uso das placas solares, já que a energia em si não é negociada nesse mercado. Mas, os valores para um investimento de tal negócio são altos, onde as maiores usinas, claro, apresentam melhor rentabilidade.
Além do investimento inicial, há outras questões relacionadas ao negócio em si, como a manutenção da usina ao longo de sua vida útil, que chega aos 30 anos, mas também o compartilhamento da usina e a administração da carteira de clientes para rentabilizar tal investimento. Outro ponto importante é que nem todo investidor dispõe de áreas viáveis para a implantação da usina, pois é preciso telhados ou áreas abertas, na maioria das vezes muito distantes.
Uma novidade vem se desenvolvendo no mercado, mas que apesar de ainda estar começando, apresenta um potencial de crescimento relevante: o investimento em usinas de geração de energia fotovoltaica a partir do mercado de renda variável digital. Inicialmente, é importante entender melhor o que é esse mercado. Regulado pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários, a Renda Variável Digital é uma categoria de investimentos do MB (Mercado Bitcoin), maior plataforma de ativos digitais da América Latina, que combina ativos digitais com lastro (reserva ou garantia), com alto potencial de retorno no médio e longo prazo. Essa inovação resulta da tokenização de ativos do mundo real, possibilitando a criação de versões digitais de ativos como imóveis, obras de arte e recebíveis. Nesse mercado, a usina solar é fragmentada em pequenas frações digitais usando o banco de dados blockchain, que permite ao token, a representação digital do ativo, no caso a usina solar, rastreabilidade e segurança.
A tokenização do investimento na usina solar é que permite uma ampliação do leque de investidores que queiram entrar no mercado de geração distribuída, com investimentos em valores mais baixos, sem as dores de cabeça relacionadas ao investimento tradicional em ativos físicos de uma usina. Outro ponto positivo da usina solar tokenizada é que o investidor poderá desfrutar de uma renda variável, mas com característica de renda fixa, pois a usina, após implantada, começa a gerar energia, de forma regular, que comercializada, sempre traz um retorno estável durante sua vida útil, de até 30 anos.
Um player importante e inovador no mercado brasileiro de renda variável digital para implantação de usinas fotovoltaicas é a Fist. Eles implantaram uma usina de 100 Kwp, Usina Ibiza, com um investimento inicial de R$ 400.000,00 em Surubim, no interior do Estado de Pernambuco, com uma captação de durou poucos meses e poderia receber aportes de, no mínimo, R$ 1.000,00.
A expectativa do negócio é começar a realizar pagamentos mensais aos investidores já a partir de dezembro, com uma expectativa de rentabilidade de 1,62% ao mês (21,37% ao ano). Considerando o fluxo de pagamentos, o investidor terá seu retorno em até 8 anos, com um token com validade de 30 anos, tempo de vida útil da usina solar. Se a empresa for vendida antes do período, o investidor poderá receber o valor investido de volta somado à valorização do negócio e os dividendos recebidos até então. Este produto foi tão bem-sucedido que a Fist já está lançando outra usina, a Usina Capri, com um valor maior de captação, R$ 4,8 milhões, para uma geração de energia solar prevista também maior, de 1,2 Mwp. O valor de investimento inicial também será de R$ 1.000,00 e o investidor poderá fazer o aporte diretamente através da plataforma do MB durante o período em que o produto estiver disponível para captação de investidores.
Não existem investimentos sem riscos financeiros, e neste negócio os riscos são: atraso na entrega da usina ou o não cumprimento com as obrigações contratadas, podendo ter como consequência a redução da rentabilidade anunciada; e, mudanças nas normas reguladoras e legislação, que podem impactar positivamente ou negativamente o produto. O ativo (participação na usina solar) pode ser liquidado na venda da empresa ou finalizando os 30 anos de operação. Quanto à negociação dos tokens, ainda não há um mercado subsequente disponível. Assim que essa função estiver disponível na plataforma, que está em fase de desenvolvimento perante a CVM, será possível negociar os tokens.
O negócio é inovador e pode trazer pequenos investidores interessados em contribuir para a transição energética global, ao mesmo tempo que se posicionam para aproveitar o potencial de retorno financeiro do mercado de energia solar. O modelo de investimento em renda variável digital vem se popularizando no mundo todo, com forte crescimento nos EUA. Em 2023, a capitalização de mercado desses ativos atingiu cerca de US$ 500 bilhões, representando um aumento significativo em relação aos anos anteriores, ainda pequeno, se comparado à capitalização de mercado combinada das empresas listadas na NYSE, de aproximadamente US$ 28 trilhões.
Aqui no Brasil, A B3, principal bolsa brasileira, registrou uma capitalização de mercado de aproximadamente R$ 5 trilhões em 2023. No mesmo ano, a capitalização de mercado desses ativos digitais foi estimada em R$ 50 bilhões. Embora os mercados de ativos digitais, excluindo criptomoedas, estejam crescendo globalmente, eles ainda representam uma fração relativamente pequena em comparação com os mercados de ações tradicionais. No entanto, a tendência de digitalização e tokenização de ativos tradicionais indica um potencial significativo de crescimento nos próximos anos.
*Coluna escrita por Ecio Costa (@eciocosta no twitter), economista pela UFPE, com Mestrado, Ph.D. e Pós-Doutorado em Economia pela University of Georgia. Atualmente é Professor Titular de Economia da UFPE e Professor Convidado da Fundação Dom Cabral. Sócio-fundador da CEDES Consultoria e Planejamento. Economista-Chefe do LIDE Pernambuco, palestrante e conselheiro de empresas.
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