O recente ajuste fiscal no Brasil foi considerado insuficiente pelo mercado, gerando impacto negativo na confiança de investidores em títulos públicos. Segundo analistas, a expectativa de cortes em despesas deu lugar à redução de receitas projetada para 2026, o que não foi bem recebido.
“O mercado esperava algo mais efetivo, como redução de gastos. No entanto, o que foi entregue não atende a essa expectativa e levanta dúvidas sobre o impacto no curto prazo”, afirmou Rafael Flores Investor da Fami Capital.
Taxa SELIC e inflação acima das metas influenciam decisões
A revisão das projeções para a taxa SELIC, que subiram para quase 14%, reforça o clima de incerteza. Esse cenário fiscal afeta não apenas a inflação e o câmbio, mas também a capacidade do país de atrair investimentos externos. “O Brasil, sendo tão dependente de dólar e de capital estrangeiro, enfrenta desafios ainda maiores quando há instabilidade fiscal. Isso afeta diretamente o comportamento dos investidores”, explicou Flores.
A alta atratividade dos títulos públicos pré-fixados, com retorno de 14%, contrasta com os riscos percebidos na economia real. Empresas com ratings AAA e isentas de imposto de renda também oferecem retornos competitivos, ampliando o dilema dos investidores. “O empresário brasileiro se questiona: invisto na economia real, com todos os riscos fiscais e políticos, ou escolho o mercado financeiro com retornos mais claros?”, destacou o Investor da Fami Capital.
Projeções para 2023 e 2024 mantêm clima de cautela
Embora o desemprego esteja em níveis historicamente baixos, projeções apontam para um aumento em 2024. A inflação, atualmente próxima à meta, deve fechar 2023 em 4,70%, acima do teto do Conselho Monetário Nacional, e alcançar 4,30% em 2024. “Mesmo com indicadores controlados, o ambiente fiscal e político gera incertezas para os próximos anos. Isso dificulta a tomada de decisões de longo prazo”, concluiu o entrevistado.
As propostas fiscais do governo enfrentam resistência no Congresso e no Senado, dificultando a implementação de medidas que poderiam restaurar a confiança no mercado. “O Senado já sinalizou dificuldades para aprovação de certos pacotes, o que adiciona mais um elemento de insegurança ao cenário”, afirmou Flores.