A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos trouxe à tona uma série de questionamentos e expectativas sobre como o retorno do ex-presidente moldará a política interna, a economia americana e a geopolítica mundial. Em entrevista ao programa Strike da BM&C News, Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais, ofereceu uma análise abrangente sobre o que essa nova fase pode representar para o mundo e, particularmente, para o Brasil.
Cenário econômico e desafios internos: novas promessas e realidades
Trump retorna à presidência em um cenário econômico desafiador. Diferente de 2016, os Estados Unidos enfrentam atualmente uma inflação acima da meta, juros elevados e uma economia dividida. Lucena pontuou que o dia a dia do americano médio tem sido afetado por um aumento nos preços de bens de consumo, como alimentos, que pressionam o poder de compra das famílias.
O economista destacou que Trump deve se empenhar em um pacote de desregulamentação econômica e cortes de impostos para aliviar a pressão sobre a classe média. Entre as medidas esperadas estão isenções fiscais para benefícios sociais e gorjetas, que devem aumentar a renda disponível dos trabalhadores. Além disso, Lucena mencionou que Trump pode adotar uma postura mais agressiva em relação à exploração de petróleo e gás, incluindo a perfuração em regiões ambientalmente sensíveis, com o objetivo de diminuir os custos de produção e trazer alívio para a economia.
Geopolítica e relações internacionais: uma nova abordagem de poder
A política externa de Trump deve seguir a linha de sua primeira gestão, com um enfoque transacional e uma visão protecionista. Lucena ressaltou que essa abordagem pode enfraquecer as organizações multilaterais, como a ONU e a OMC, diminuindo sua relevância em um cenário onde acordos bilaterais ganham protagonismo.
Nos mercados internacionais, Trump planeja avançar em políticas que favoreçam o crescimento econômico americano, mesmo que à custa de alianças tradicionais. Lucena apontou que a estratégia de Trump de focar em políticas de corte de impostos e desregulamentação deve continuar a fortalecer a economia dos EUA e a atrair investimentos. Contudo, isso também pode levar a uma valorização do dólar e uma consequente pressão sobre mercados emergentes, incluindo o Brasil.
Relações Brasil-EUA: desafios e oportunidades limitadas
A vitória de Trump apresenta um cenário complexo para o Brasil. Lucena observou que as relações diplomáticas entre os dois países devem seguir em níveis protocolares, sem grandes iniciativas de aproximação ou cooperação. Um fator que contribui para isso é o apoio explícito de figuras políticas brasileiras, como Eduardo Bolsonaro, à candidatura de Trump, contrastando com a posição do governo brasileiro de apoio à candidatura de Kamala Harris.
A proposta de Trump de taxar produtos importados pode prejudicar diretamente o saldo comercial do Brasil, que tem os EUA como destino de cerca de 30% de suas exportações. Lucena enfatizou que o Brasil precisará buscar novos mercados para se proteger dos impactos das tarifas americanas e manter sua competitividade internacional. Essa busca por alternativas deve se intensificar caso as tarifas americanas avancem, criando uma nova dinâmica comercial.
Impactos no mercado financeiro: perspectivas de alta e valorização do dólar
A vitória de Trump trouxe um impacto imediato e positivo para os mercados financeiros dos EUA. Segundo Lucena, o otimismo se refletiu em índices como o S&P 500 e o Nasdaq, que registraram altas expressivas logo após a confirmação da vitória. O economista atribui esse movimento à expectativa de um governo com controle legislativo, facilitando a aprovação de projetos de desregulamentação e estímulos econômicos.
Com a economia americana crescendo impulsionada por políticas fiscais e cortes de impostos, espera-se uma valorização do dólar, que pode pressionar ainda mais os mercados emergentes. Lucena destacou que, para o Brasil, manter o fluxo de capitais e o equilíbrio cambial será um desafio, especialmente em um contexto onde o risco país e a sustentabilidade fiscal estão em jogo.
Política externa e protecionismo: o papel dos EUA em um mundo multipolar
Lucena comentou que a abordagem de Trump pode incluir uma redução do envolvimento militar e financeiro em conflitos externos, promovendo uma política de “América em primeiro lugar”. Isso pode resultar em menos apoio a aliados, exigindo que países como Japão e Coreia do Sul aumentem seus próprios investimentos em defesa. No entanto, Trump manterá a presença militar estratégica em regiões importantes, como o Oriente Médio e o Pacífico, para proteger os interesses americanos sem se envolver profundamente em conflitos.
A postura mais isolacionista de Trump também deve afetar a estabilidade em regiões de conflito. Lucena alertou que, embora a presença militar dos EUA deva ser mantida, o país poderá adotar uma abordagem mais passiva, encorajando os aliados a se defenderem sozinhos. Isso pode criar uma nova dinâmica de poder, com países como China e Rússia aproveitando a oportunidade para expandir suas influências.
A vitória de Trump não é apenas uma mudança na política americana, mas um reflexo de uma onda de ascensão da direita em diversos países. Lucena afirmou que essa tendência é impulsionada pela entrega de resultados práticos em contraste com as promessas vazias que marcaram o pós-pandemia em muitos governos de esquerda.
Para o Brasil, a lição é clara: é preciso repensar as políticas públicas e focar em medidas que tragam crescimento sustentável e aumentem a produtividade. A vitória de Trump serve como um alerta para que o governo brasileiro invista em políticas que favoreçam o desenvolvimento econômico e atraiam investimentos estrangeiros, evitando uma estagnação que pode prejudicar o país no longo prazo.