Estudo da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) mostra que 71% das empresas brasileiras já haviam implementado iniciativas sustentáveis entre março e abril. Isso representa aumento significativo de 24 pontos porcentuais em comparação a 2023, quando 47% das empresas haviam aderido à agenda ESG (Ambiental, Social e Governança). Entre essas, 26% se destacam com soluções inovadoras que as tornaram referência de mercado, enquanto 45% estão com boas práticas já em andamento. No entanto, 14% ainda planejam iniciar essas práticas no curto prazo, 9% pretendem implementá-las no longo prazo e 4% ainda não priorizam o ESG em suas estratégias. O estudo foi feito com 687 líderes empresariais. Embora o movimento de implementação esteja em progresso, especialistas alertam que o ritmo ainda é considerado lento. “Com menos de dois meses para o fim do ano, varejistas ainda não se movimentaram suficientemente para incluir as metas ESG nos planos de negócios para 2025”, afirmou Fernando Gambôa, sócio-líder do setor de consumo e varejo da KPMG no Brasil e na América do Sul.
De acordo com Gambôa, este é justamente o período em que grandes empresas deveriam se mobilizar para aprovar as ações que serão executadas no próximo ano e refletidas no balanço contábil de 2026. A divulgação de informações ESG nas demonstrações financeiras segue diretrizes da Resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A inclusão dessas informações será voluntária nos relatórios de 2025, referentes ao ano anterior. No entanto, a partir de 2026 a divulgação das práticas ESG se tornará obrigatória, com as informações sendo reportadas nos relatórios anuais divulgados em 2027. “O setor de varejo, por seu contato direto com o consumidor, deveria estar mais atento em promover o consumo sustentável e oferecer produtos mais duráveis e que agreguem valor e experiência ao cliente.”
Essa perspectiva pode ser corroborada pelo estudo Impacto do ESG no Varejo 2024, da Mosaiclab: embora a adoção de práticas ESG das empresas não seja determinante na escolha de compra dos consumidores, suas expectativas em relação às ações ESG das companhias permanecem. Entre as principais prioridades citadas pelos entrevistados, estão a criação de oportunidades de emprego (47%), redução de resíduos e incentivo à reciclagem (46%), qualidade da água e combate ao desmatamento (45%) e redução das emissões de carbono (44%).
Além disso, o não cumprimento das normas ESG pode impactar as exportações, especialmente devido às regulamentações ambientais de outros países. Cada mercado externo tem suas próprias diretrizes. A União Europeia, por exemplo, implementou novas regulamentações em 2024 que reforçam essa exigência. Entre elas, está o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), que restringe a entrada de produtos com alta pegada de carbono no bloco europeu. Outra medida é a European Union Deforestation-Free Regulation (EUDR), que garante que os produtos comercializados na UE não estejam associados ao desmatamento. Empresas que não atenderem a essas normas correm o risco de perder oportunidades no mercado europeu.
Para o especialista da KPMG, esses ajustes nas empresas precisam ser feitos com antecedência para que o setor mantenha uma posição promissora no mercado e evite riscos climáticos e financeiros, até para evitar perder investimentos. “Esses fatores serão decisivos para a tomada de decisão dos investidores”, afirmou. Cerca de 78% dos investidores pensam que empresas devem investir em ESG, mostrou o estudo EY Global Reporting and Institutional Investor Survey, de 2022. A tendência global é que empresas, principalmente aquelas listadas em Bolsas, informem dados de sustentabilidade junto com os financeiros. Segundo a sócia-líder de ESG da KPMG no Brasil e na América do Sul, Nelmara Arbex, a CVM quis demonstrar ao mercado que as organizações brasileiras também estão preparadas para atender a esse tipo de demanda – para que o investidor se sinta mais confortável para realizar aportes nessas companhias.