Roberto Dumas, mestre em economia, debateu durante sua participação no BM&C News de hoje (24) o impacto da aliança estratégica entre China e Rússia e os desafios do BRICS em criar uma nova ordem monetária. Dumas destacou que, embora o bloco tenha interesse em reduzir a dependência do dólar, há resistência no setor privado brasileiro para adotar moedas menos conversíveis nas transações comerciais.
“O governo pode ter interesse em sair do dólar, mas é preciso avaliar se exportadores e empresas querem receber em moedas como o rublo”, comentou Dumas, questionando a viabilidade prática dessa mudança. Ele ironizou, mencionando que tentar utilizar moedas menos aceitas internacionalmente seria como pagar em aeroportos com real ou moeda afegã.
Além das limitações de confiança em moedas dos novos integrantes do BRICS, como Afeganistão e Irã, Dumas observou que o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), presidido por Dilma Rousseff, não pretende substituir o FMI, mas sim complementá-lo. O banco do BRICS tem um capital de US$ 100 bilhões, uma fração dos US$ 932 bilhões do FMI, cujas maiores cotas pertencem a Estados Unidos, Japão e China.
Dumas destacou a diferença de poder entre as nações. No FMI, os cinco maiores cotistas detêm 36% do poder de veto, enquanto os países do BRICS juntos possuem apenas 14,5%. Esse desequilíbrio é um dos motivadores para a criação de uma governança alternativa, onde o BRICS busca maior autonomia e influência nas decisões globais.
“A ideia é formar um ‘clube próprio’ para ganhar espaço nas decisões internacionais, especialmente porque as autocracias no bloco não querem depender de instituições dominadas pelo Ocidente”, explicou Dumas.
Dumas afirmou que, apesar do interesse em reduzir a hegemonia do dólar, o BRICS não tem a intenção de impor ideologias, como ocorreu na Guerra Fria. “Não se trata de adotar uma postura antiocidental, mas sim de buscar mais espaço de decisão e dissuasão econômica no novo cenário global”, concluiu.
O economista destacou que a mudança para uma ordem financeira multipolar é inevitável, embora haja incertezas sobre como as moedas e as economias dos novos integrantes se posicionarão no longo prazo.