O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a revisão do PIB brasileiro feita pelo FMI, mas enfrenta um alerta importante da entidade. O Fundo Monetário Internacional sinalizou que o déficit primário do Brasil é elevado e que o equilíbrio das contas públicas pode ser alcançado apenas em 2027. Em reuniões no FMI e no G20, Haddad reforça uma mensagem positiva sobre o Brasil, tentando atrair a confiança de agências de classificação de risco.
“Há necessidade de ajuste fiscal, mas os sinais do governo ainda não são claros”, afirmou Miguel Daoud, analista de economia e política em conversa com a BM&C News. A incerteza fiscal afeta diretamente a credibilidade do mercado, elevando juros futuros e aumentando o custo do dólar, comprometendo o ambiente econômico.
Alta da arrecadação esconde fragilidade estrutural das contas
A arrecadação federal aumentou em 2023, impulsionada pela reintrodução do PIS/COFINS sobre a gasolina e pelo crescimento do crédito. No entanto, 43% de toda a receita é destinada à rolagem da dívida pública. “O Brasil gastou 1,8 trilhão apenas para manter a dívida”, detalhou Daoud. Esse cenário pressiona o governo, que aloca menos recursos para áreas como educação e saúde, enquanto as emendas parlamentares fragmentam os investimentos necessários para crescimento de longo prazo.
Empresários de menor porte enfrentam um mercado estagnado, evidenciando a dificuldade de manter empregos e gerar crescimento sustentável. “O micro e pequeno empresário, que sustenta o emprego, está parado”, ressaltou o analista. A atividade comercial física mostra sinais de deterioração, com consumidores migrando para o comércio eletrônico, mas sem compensar a desaceleração geral do mercado.
Incertezas políticas e geopolíticas aumentam a vulnerabilidade do Brasil
Além dos desafios econômicos internos, a instabilidade global, com tensões entre Israel, Irã, China e Rússia, afeta diretamente o Brasil. “Com essa vulnerabilidade, o governo precisa agir para reduzir riscos”, comentou Daoud. No entanto, o foco do presidente Lula em questões políticas internas, como conflitos dentro do PT, gera incerteza adicional. A confiança do mercado se enfraquece, e as projeções para 2024 são de um cenário ainda mais desafiador.
Haddad busca transmitir uma visão otimista, mas enfrenta um mercado cada vez mais desconfiado das ações governamentais. Sem sinais concretos de ajuste fiscal, a elevação dos juros e a valorização do dólar reforçam o pessimismo. A confiança dependerá de um esforço coordenado para equilibrar contas e enfrentar as vulnerabilidades globais e internas.