Na mais recente cúpula do BRICS, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou sua participação presencial na Rússia devido a um acidente doméstico, optando por se juntar ao evento de forma virtual. O economista Ecio Costa, professor da UFPE, analisou o impacto dessa ausência e os desafios que o Brasil enfrentará no bloco.
Segundo Ecio, o BRICS, que originalmente incluía Brasil, Rússia, Índia e China, passou por uma expansão significativa. “O Brasil não foi muito favorável à ampliação do bloco, já que a inclusão de novos membros, como Argentina, Arábia Saudita e Irã, pode diminuir o peso do Brasil nas decisões estratégicas, diante da predominância de China, Rússia e Índia”, avaliou.
Além da expansão, cerca de 30 países estão em processo de candidatura para se tornar parceiros do BRICS. A inclusão de países com regimes autoritários, como Venezuela, Cuba e Nicarágua, levanta preocupações sobre uma possível polarização política e sobre o impacto na imagem do bloco, que pode ser visto como um contraponto à hegemonia ocidental.
Relações comerciais e riscos econômicos
Ecio Costa destacou que a aproximação com os membros do BRICS pode dificultar acordos comerciais estratégicos, como o tratado entre Mercosul e União Europeia. “A maioria dos países europeus se opõe à Rússia por conta da guerra na Ucrânia, e o fortalecimento do Brasil dentro do BRICS pode trazer obstáculos para a concretização desses acordos”, explicou.
Além disso, a aliança com países como o Irã, que agora é membro do bloco, pode influenciar negativamente as relações comerciais com os Estados Unidos, especialmente em um cenário de mudança política americana. “Se Donald Trump vencer as próximas eleições, o alinhamento do Brasil com o BRICS pode afetar as relações com os EUA, dado o forte apoio de Trump a Israel e o conflito atual no Oriente Médio”, completou o economista.
Presidência brasileira do BRICS em 2025
Apesar dos desafios, o Brasil terá uma oportunidade única em 2025, quando assumirá a presidência do BRICS. A liderança será exercida em um período estratégico, coincidindo com a realização da COP 30 em Belém, que colocará o Brasil no centro das discussões globais sobre meio ambiente e sustentabilidade.
Ecio Costa reforçou que o protagonismo brasileiro será essencial, mas que o país precisará equilibrar sua atuação entre a cooperação com os membros do BRICS e a manutenção de boas relações comerciais com o Ocidente.
A cúpula do BRICS deste ano também discutirá a crise no Oriente Médio e os rumos do New Development Bank (NDB), liderado por Dilma Rousseff, que pode financiar novos projetos no Brasil e fortalecer o bloco no cenário internacional.
Com a expansão do BRICS e as questões geopolíticas emergentes, o Brasil se encontra diante de um delicado jogo de interesses, onde precisará medir suas alianças para garantir tanto seu desenvolvimento econômico quanto sua relevância internacional.