Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, analisou em sua participação do programa BM&C News, os desafios que afetam tanto o setor corporativo quanto a política econômica do governo Lula. Entre os pontos abordados, destacou-se a situação da Embraer, as pressões fiscais crescentes e a dificuldade do governo em convencer o mercado de sua capacidade de entregar resultados.
Segundo Cruz, a Embraer enfrenta gargalos operacionais por conta de atrasos na entrega de peças de fornecedores, ainda impactados pela pandemia. Ele enfatizou que riscos regulatórios e cambiais também podem prejudicar o desempenho da empresa no longo prazo. “Essas falhas de fornecimento impedem o uso completo da capacidade instalada e afetam a projeção de crescimento”, explicou.
No plano econômico, Cruz comparou o cenário atual com 2015, quando o então ministro Joaquim Levy não conseguiu implementar suas medidas de ajuste fiscal, frustrando o mercado. O mesmo tipo de ceticismo, segundo ele, é visível hoje em relação aos planos do governo. O pente-fino nos programas sociais e as promessas de economia de até R$ 26 bilhões para 2025 são vistas como excessivamente otimistas, com o mercado já revisando para baixo suas expectativas.
O estrategista também criticou a disparidade entre super salários no setor público e a realidade da maioria da população brasileira. “Enquanto metade da população ganha até dois salários mínimos, cerca de 30 mil servidores recebem mais de R$ 6 bilhões por ano. Isso é um desequilíbrio inaceitável”, apontou Cruz, alertando para a insustentabilidade fiscal.
Em termos de crescimento, ele destacou que a aposta do governo na expansão econômica como solução para as contas públicas não tem se concretizado. “Apesar do crescimento de 3% neste ano, a dívida pública continua aumentando, e o mercado já não confia que a economia crescerá o suficiente para resolver o problema fiscal”, avaliou.
Cruz observou ainda que o Tesouro Nacional tem encontrado dificuldades para vender títulos de longo prazo, refletindo a falta de confiança do mercado. “Os investidores não querem assumir riscos, o que obriga o governo a se endividar com prazos mais curtos, gerando ainda mais pressão nas contas públicas”, concluiu.
Com o cenário fiscal em deterioração e as dúvidas sobre a efetividade das políticas econômicas, Cruz acredita que o governo enfrentará maiores desafios até 2026. “A confiança precisa ser restaurada, mas, no ritmo atual, é difícil imaginar que o mercado ainda comprará essa narrativa”, finalizou.