A agência de classificação de risco Moody’s elevou ontem (01) a nota de crédito soberano do Brasil de “Ba2” para “Ba1”, com perspectiva positiva, aproximando o país do tão desejado grau de investimento. A decisão reflete a melhora no perfil de crédito do Brasil, impulsionada por um crescimento econômico acima das expectativas e por reformas fiscais e econômicas que fortaleceram a resiliência da economia. Apesar do avanço, a agência alerta que o país ainda enfrenta desafios fiscais, principalmente em relação ao custo elevado de sua dívida pública.
Após o anúncio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a notícia, destacando que o país está “no caminho certo”. Ele enfatizou que o Brasil tem grandes chances de estabilizar a relação dívida/PIB e os gastos públicos se mantiver o foco no ajuste fiscal e monetário. “Se continuarmos perseverando nesse caminho de ajustes, poderemos alcançar a estabilidade fiscal que o país tanto precisa após anos de desequilíbrio”, afirmou Haddad.
No entanto, a decisão da Moody’s gerou reações mistas entre economistas e especialistas do mercado financeiro, com alguns questionando se a elevação da nota foi realmente justificada, dadas as condições fiscais do país.
Especialistas divergem sobre a decisão da Moody’s
Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, afirmou que a elevação da nota não deveria surpreender os que acompanham de perto a economia brasileira. “A situação fiscal é, sem dúvida, desafiadora, mas não há risco de insolvência do setor público. A demanda por títulos públicos permanece firme, e o caixa do Tesouro é uma boa proteção contra choques. Contudo, os desafios estruturais, como a rigidez orçamentária e o crescimento insustentável das despesas, requerem uma agenda de ajustes focada na redução do risco fiscal”, observou Salto.
Já Roberto Dumas, mestre em Economia, demonstrou ceticismo em relação à decisão. Dumas apontou que o crescimento atual da economia brasileira é, em grande parte, impulsionado por uma política fiscal expansionista. “Estamos crescendo com base em estímulos fiscais, mas isso não é sustentável a longo prazo. Nossa dívida pública deve aumentar de 73,5% do PIB em 2022 para mais de 83% até o final do governo Lula. Como é que uma agência de rating eleva a nota sabendo que a dívida pública vai crescer significativamente?”, questionou Dumas. Ele também destacou que a inflação continua sendo uma preocupação, e a política monetária do Banco Central deverá apertar novamente, o que pode desacelerar o crescimento no próximo ano.
O economista e sócio da Acqua Vero, Bruno Musa, participou do programa BM&C News de hoje (02), e falou que se caso essas agencias tratassem o assunto de maneira correta, deveriam rebaixar o país e não aumentar.
Apesar das divergências, a elevação da classificação de risco foi bem recebida pelo mercado, refletida na valorização do Ibovespa, que operou em alta, contrariando a tendência de queda dos mercados internacionais.
Embora o Brasil tenha dado passos importantes para fortalecer sua economia, os especialistas concordam que ainda há muito trabalho a ser feito, especialmente no que diz respeito à credibilidade fiscal.