A crescente dívida pública do Brasil e o risco de uma dominância fiscal foram temas centrais da recente análise do economista Bruno Musa, sócio da Acqua Vero, durante participação do programa BM&C News.
Ele apontou que a expansão fiscal contínua do governo brasileiro pode resultar em um cenário onde o aumento da taxa de juros não será suficiente para conter a inflação, especialmente devido à estrutura do crédito no país.
“Dos 100% do crédito disponível no Brasil, apenas 60% é livre, enquanto 40% é subsidiado, principalmente com taxas abaixo do mercado”, explicou Musa. Isso significa que, mesmo com o aumento das taxas de juros, o crédito subsidiado continuará impulsionando o consumo e, consequentemente, pressionando a inflação. Segundo o economista, os efeitos dessa política expansionista podem ser sentidos até 2026, com maiores complicações previstas para 2027, caso a trajetória de endividamento público continue.
Musa também comparou a situação brasileira com o contexto global, destacando os desafios impostos pela inflação mundial e as políticas monetárias dos Estados Unidos. Ele observou que o impacto da injeção monetária dos EUA ainda não se concretizou totalmente, ressaltando que crises econômicas são, muitas vezes, uma forma de “sanar os excessos do sistema.”
Impacto do Oriente Médio no preço das commodities
Além da análise da dívida pública, o economista discutiu o cenário geopolítico atual, com foco no Oriente Médio. A escalada do conflito na região, especialmente envolvendo Israel e Irã, pode afetar diretamente o preço das commodities, como o petróleo, e aumentar a inflação global. “O petróleo disparando e o estresse no mercado são sinais claros de que o impacto inflacionário pode ressurgir”, comentou Musa.
Ele também apontou que, embora o Brasil possa se beneficiar de um aumento no preço do petróleo por ser exportador, o país enfrentaria um aumento na inflação interna. “Esse equilíbrio é muito complexo, e tentar prever os desdobramentos desse conflito é extremamente desafiador, especialmente a partir da nossa perspectiva no Brasil”, concluiu.
Geopolítica e as eleições nos EUA
Por fim, Musa trouxe uma análise das implicações políticas dos conflitos globais nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, que se aproximam. Ele destacou a postura ambígua do governo americano, lembrando que as sanções ao Irã foram flexibilizadas nos últimos anos, permitindo que o país financiasse armamentos que agora são usados no conflito com Israel. Isso pode se tornar um ponto crucial nas campanhas eleitorais, com Donald Trump utilizando essa narrativa para se fortalecer politicamente.
Com uma dívida pública global ultrapassando 300% do PIB mundial, Musa alertou que o cenário é de grande incerteza econômica. “O mundo nunca viu um nível de endividamento tão alto, e qualquer faísca inflacionária, seja provocada por crises fiscais ou conflitos geopolíticos, pode reacender pressões sobre a economia global.”