Um AVC vira a vida do paciente de cabeça para baixo. Muitas vezes, os sintomas acontecem sem preparo e aviso prévio, e as consequências do acidente vascular cerebral perduram por muitos anos. “Fisioterapia e paciência” é o lema de grande parte das pessoas que sobreviveram ao evento de saúde grave.
Essa é a frase que, por muitos anos, regeu a vida da professora universitária Maíra Veiga, hoje com 38 anos. Aos 30, sem nenhum fator de risco, ela sofreu um AVC enquanto dormia, às vésperas de assistir, ao vivo, as Olimpíadas do Rio. Maíra acordou com muita vontade de ir ao banheiro, formigamento no rosto, uma dor estranha na lombar e fraqueza na perna. Achou que tinha dormido de mal jeito, ou se machucado na academia.

O que aconteceu com Maíra?
Ao acordar, os sintomas eram sutis: formigamento no rosto, uma dor estranha nas costas e uma fraqueza inexplicável na perna. Ignorando os sinais, ela atribuiu os sintomas a uma noite mal dormida ou a uma lesão na academia. Pouco sabia ela que estava vivendo um dos momentos mais desafiadores de sua vida.
“Meu pai entrou no quarto porque ia me dar uma carona para o aeroporto. Ele tomou um susto, ficou desesperado. Eu estava com o rosto torto e a perna bamba, sem movimento. Falei pra ele que eu estava com dor, mas devia ser um mal jeito na coluna. Nunca imaginei que ia ter um AVC aos 30 anos, com a saúde perfeita. Nunca fui fumante, ia para a academia todos os dias e não tinha histórico na família”, lembra.
O pai de Maíra ficou desconfiado, e ligou para alguns vizinhos que eram médicos. Ninguém atendeu. Uma tia da paulista é médica, e atendeu o telefone: disse que devia ser um derrame, e eles deveriam ligar para o SAMU com urgência. Maíra foi andando para a ambulância, não usou cadeira de rodas no hospital. Na ressonância, o diagnóstico: AVC isquêmico.
Quais são os sintomas de um AVC isquêmico?
Um AVC isquêmico, o tipo mais comum de acidente vascular cerebral, ocorre quando um coágulo bloqueia uma artéria no cérebro, privando as células cerebrais de oxigênio e nutrientes. Reconhecer os sintomas de um AVC é crucial para buscar ajuda médica imediata e aumentar as chances de recuperação.
Os principais sintomas de um AVC isquêmico incluem:
- Fraqueza ou paralisia facial: Um lado do rosto pode ficar caído ou ter dificuldade para sorrir.
- Fraqueza ou paralisia em um braço ou perna: Dificuldade para levantar um braço ou uma perna ou sentir um lado do corpo mais pesado que o outro.
- Dificuldade para falar ou entender a fala: Confusão, fala arrastada ou incompreensível.
- Perda súbita da visão, em um ou ambos os olhos: Visão embaçada ou perda total da visão em um olho.
- Tontura e perda de equilíbrio: Dificuldade para andar ou manter o equilíbrio.
- Dor de cabeça súbita e intensa: Dor de cabeça diferente de qualquer outra já sentida.
É importante destacar que o tempo é crucial no tratamento de um AVC. Quanto mais rápido o paciente receber atendimento médico, maiores são as chances de recuperação e de evitar sequelas graves.
Quais são as causas de um AVC isquêmico?
Diferente dos casos em idosos, onde os fatores de risco tradicionais como hipertensão e diabetes são mais prevalentes, em jovens as causas podem ser mais complexas e variadas.
As principais causas de AVC isquêmico em jovens incluem:
- Doenças cardíacas:
- Fibrilação atrial: Um tipo de arritmia cardíaca que aumenta o risco de formação de coágulos sanguíneos.
- Doenças das válvulas cardíacas: Problemas nas válvulas cardíacas podem levar à formação de coágulos.
- Doenças congênitas do coração: Defeitos cardíacos presentes desde o nascimento podem aumentar o risco de AVC.
- Distúrbios da coagulação:
- Trombofilias: Doenças hereditárias ou adquiridas que levam à formação de coágulos sanguíneos.
- Deficiência de proteínas anticoagulantes: A falta dessas proteínas pode aumentar o risco de trombose.
- Doenças vasculares:
- Dissecção arterial: Ruptura da camada interna de uma artéria, que pode levar à formação de um coágulo.
- Vasculites: Inflamação dos vasos sanguíneos.
- Malformações arteriovenosas: Conexões anormais entre artérias e veias no cérebro.
- Outras causas:
- Uso de drogas: Drogas ilícitas e alguns medicamentos podem aumentar o risco de AVC.
- Migrânea: Em alguns casos, a migrânea pode estar associada a um risco aumentado de AVC.
- Trauma craniano: Lesões na cabeça podem aumentar o risco de formação de coágulos.
- Fatores de risco tradicionais: Embora menos comuns em jovens, fatores como hipertensão, diabetes,colesterol alto e tabagismo também podem contribuir para o AVC.
Quais são os principais fatores de risco modificáveis?
Apesar de algumas causas serem genéticas ou relacionadas a condições médicas pré-existentes, alguns fatores podem ser modificados para reduzir o risco de AVC em jovens:
- Controle da pressão arterial: Manter a pressão arterial dentro dos limites normais é fundamental.
- Controle do colesterol: Níveis elevados de colesterol aumentam o risco de aterosclerose.
- Controle do diabetes: O diabetes aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
- Parar de fumar: O tabagismo danifica os vasos sanguíneos e aumenta o risco de coágulos.
- Manter um peso saudável: A obesidade está associada a diversos problemas de saúde, incluindo o risco de AVC.
- Praticar atividade física regularmente: A atividade física regular ajuda a controlar a pressão arterial, o colesterol e o peso.
- Alimentação saudável: Uma dieta equilibrada e rica em frutas, verduras e grãos integrais pode ajudar a reduzir o risco de doenças cardiovasculares.
Como é feito o diagnóstico e o tratamento?
O diagnóstico do AVC isquêmico em jovens envolve uma avaliação clínica completa, exames de imagem como tomografia computadorizada e ressonância magnética, além de exames de sangue para identificar possíveis causas. O tratamento varia de acordo com a causa e a gravidade do AVC e pode incluir medicamentos para dissolver o coágulo,procedimentos cirúrgicos ou outros tratamentos específicos.
É fundamental buscar atendimento médico imediato em caso de suspeita de AVC. Quanto mais rápido o tratamento for iniciado, maiores são as chances de recuperação e de evitar sequelas graves.
Como tratar espasticidade após um AVC?
Espasticidade é uma condição que pode surgir após um AVC e mudar drasticamente a vida do paciente. A sala da casa de Maíra se tornou uma espécie de centro de fisioterapia. Três meses depois, sua mão, que estava bem molenga, começou a ficar rígida. A perna também endureceu. A condição é conhecida como espasticidade.
Um a cada três pacientes que sofrem AVC têm essa complicação. Não é uma questão de ser jovem ou idoso, homem ou mulher. Depende da extensão do acidente e da região afetada.
Tratamentos incluem relaxantes musculares, anticonvulsivantes e benzodiazepínicos. Fisioterapia e o uso de botox ajudam no relaxamento muscular. Em casos graves, pode ser necessária uma cirurgia, inclusive cerebral.
Quais outras complicações um paciente de AVC pode enfrentar?
Além de espasticidade, outras complicações podem surgir. Segundo o fisiatra Eduardo Rocha, dificuldade para engolir, assimetria facial, alteração da fala, e perda de força e equilíbrio são comuns.
Há também um risco significativo de um segundo AVC. Entre 5 e 14% dos pacientes que sofreram um AVC terão outro episódio em um ano. Após cinco anos, as chances aumentam consideravelmente.
Prevenção e suporte para pacientes de AVC
Vale ressaltar:
- Evitar fumar e consumir álcool em excesso.
- Manter uma alimentação saudável.
- Praticar exercícios regularmente.
- Controlar a pressão arterial e glicemia.
“A paciência e a perseverança são fundamentais”, conta Maíra, que até hoje se cuida para evitar novos problemas.
Fonte:
- https://www.metropoles.com/saude/nao-conseguia-abrir-a-mao-avc-aos-30-anos
- Sanar: https://sanarmed.com/como-manejar-o-avc-isquemico-yellowbook/
- Sociedade Brasileira de Neurologia: https://avc.org.br/pacientes/acidente-vascular-cerebral/
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