O cenário fiscal do Brasil tem gerado preocupações no mercado financeiro, conforme destacou Beto Saad, diretor de investimentos da Nomos, em participação no programa BM&C News de hoje (30).
Saad ressaltou que, apesar das recentes decisões de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os investidores continuam pessimistas devido ao aumento da dívida pública e à falta de clareza no compromisso do governo com a sustentabilidade fiscal.
“O problema está morando no fiscal”, afirmou Saad. Ele observou que o mercado deixou de focar apenas na meta de superávit primário e agora se preocupa com o crescimento da relação dívida/PIB, que tem aumentado de forma significativa.
Um dos pontos de preocupação foi o recente descontingenciamento do relatório bimestral do governo, o que, segundo Saad, deu sinais de que o Ministério da Fazenda não está totalmente comprometido com o cumprimento das metas fiscais estabelecidas. “Isso passou uma sinalização de que o ministério da fazenda está mirando o topo de baixo da meta, e aí acaba que aumentam-se os riscos”, acrescentou.
Saad também ressaltou que o aumento dos encargos com juros, os repasses para a dívida dos Estados e a questão das transferências de saldos esquecidos nas contas correntes são pontos que contribuem para a deterioração fiscal do país.
O diretor de investimentos sugere que, no futuro, o arcabouço fiscal deverá ser revisado, pois o mercado não está mais preocupado apenas com o superávit primário, mas também com a dívida total do governo. “O mercado não está mais tão preocupado só com o superávit primário; ele está preocupado também com a dívida total”, destacou.
A falta de confiança fiscal também impacta o fluxo de investimento estrangeiro para o Brasil. Beto Saad mencionou que, apesar de haver investimentos em infraestrutura, o mercado de ações (B3) tem registrado um fluxo negativo de capital estrangeiro em 2024. “Na B3 você ainda está vendo um fluxo bastante negativo. Melhorou nos últimos meses, é verdade, mas está vindo bastante negativo no fechado do ano”, observou.
Quanto ao crescimento do PIB, que superou as expectativas do mercado, Saad foi enfático ao afirmar que o aumento da arrecadação resultante desse crescimento é insuficiente para compensar a expansão da dívida pública. “O quanto crescer de 2,5% para 3%, por exemplo, representa um impacto muito pequeno na redução da nossa dívida pública”, ressaltou.
Outro ponto abordado foi a crescente desdolarização por parte de bancos centrais de vários países, que estão trocando ativos em dólares por ouro, influenciados por questões geopolíticas e pela busca de ativos mais seguros. Esse movimento, segundo Saad, faz com que o dinheiro que antes poderia ir para os países emergentes, como o Brasil, seja direcionado para outros ativos, como ouro e criptomoedas.