O professor de educação física Ramon Lima, de 43 anos, sempre sonhou em ser atleta, mas esse sonho foi interrompido em 2008, quando foi diagnosticado com uma doença renal crônica chamada glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF). Após uma década de tratamento com corticoides e cuidados alimentares, ele entrou na lista de espera para um transplante de rim, submetendo-se à diálise peritoneal enquanto aguardava.
Quatro anos depois do transplante, Ramon realizou seu sonho de infância e hoje compete como atleta transplantado em competições nacionais e internacionais. “Desde pequeno sonhava em ser atleta e nunca tive a oportunidade. O transplante pode me proporcionar isso. Hoje sou um atleta transplantado e uso o esporte como ferramenta para divulgar a doação de órgãos em todos os espaços em que estou inserido”, contou Ramon à CNN.
Como funciona a doação de órgãos no Brasil?
O Brasil é uma referência mundial na área de transplantes e possui o maior sistema público de transplantes do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos em números totais. No Brasil, a doação de órgãos e tecidos de pessoas falecidas só é realizada após a autorização familiar. Mesmo que uma pessoa manifeste em vida o desejo de doar, a decisão final cabe aos familiares.
Para que um falecido possa ser doador de órgãos, é necessário confirmar a morte encefálica ou a morte causada por parada cardiorrespiratória. Após essa confirmação, a família é informada sobre o processo de doação e transplante e solicitada a consentir com a doação.
Quais são os critérios avaliados para um órgão ser doado?
Critérios relacionados ao doador:
- Causa da morte: Geralmente, a doação ocorre após a confirmação de morte encefálica, causada por traumas cranianos graves ou hemorragias cerebrais.
- Idade: Não há uma idade limite para a doação, mas a condição geral de saúde do órgão é avaliada.
- Condições de saúde: O doador deve estar livre de doenças infecciosas que possam ser transmitidas pelo transplante, como HIV, hepatite B e C, e outros vírus. Também são avaliadas condições como câncer e doenças cardíacas.
- Tempo de isquemia: É o tempo que o órgão fica sem receber sangue desde a retirada do corpo do doador até o transplante no receptor. Quanto menor o tempo, maior a chance de sucesso do transplante.
Critérios relacionados ao órgão:
- Viabilidade: O órgão deve estar em condições fisiológicas adequadas para garantir o funcionamento após o transplante.
- Tamanho e compatibilidade anatômica: O tamanho e a anatomia do órgão devem ser compatíveis com o receptor.
- Ausência de lesões: O órgão não pode apresentar lesões que comprometam sua função.
Critérios relacionados ao receptor:
- Compatibilidade sanguínea e imunológica: É fundamental que exista compatibilidade entre o tipo sanguíneo do doador e do receptor, além de compatibilidade entre os sistemas imunológicos para evitar rejeição do órgão.
- Condição de saúde: O receptor deve estar em condições clínicas adequadas para receber o transplante e ter um sistema imunológico capaz de tolerar o novo órgão.
- Urgência: A gravidade do estado de saúde do receptor é um fator importante na definição da ordem na lista de espera.
Processo de avaliação:
Uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, realiza uma avaliação rigorosa do doador e do órgão. Essa avaliação inclui exames laboratoriais, tomografias computadorizadas e outros procedimentos para garantir a segurança e a eficácia do transplante.
No caso de doadores falecidos, após a autorização familiar, os órgãos são removidos e distribuídos para pacientes na lista de espera, priorizando critérios de urgência e compatibilidade. Os órgãos doados podem transformar vidas, como ocorreu com Ramon Lima.
Qual a importância da comunicação entre médico, familiares e pacientes?
O médico Alexandre Bignelli enfatiza a importância do esclarecimento sobre a possibilidade de se tornar um doador de órgãos. “Isso porque em vida temos maior probabilidade de precisar de um órgão do que de sermos potenciais doadores”, afirma. Cabe aos profissionais de saúde informarem as famílias sobre a importância da doação, que pode beneficiar múltiplos receptores na lista de espera.
A comunicação sobre o desejo de doar deve ocorrer dentro da família. Uma pessoa interessada em se tornar doadora, seja em vida ou após a morte, deve comunicar sua vontade aos seus familiares para que eles estejam cientes e possam tomar essa decisão informada.
Relatos de quem viveu a experiência da doação de órgãos
Inês Silva, esposa de Ramon Lima, expressa gratidão pela família que permitiu que seu marido recebesse um rim. “Foi a decisão da família doadora, em um momento muito difícil, que possibilitou que o meu marido continuasse acompanhando o crescimento das minhas filhas e, mais do que isso, ter qualidade de vida”, disse Inês à CNN.
A cantora Michele Mabelle perdeu seu pai por um acidente vascular cerebral e transformou o luto em um ato de amor ao consentir com a doação dos órgãos dele. “Enfrentar a morte é um desafio imenso, mas, após conversar com a equipe de captação de órgãos, passei a ver a situação com um novo olhar”, compartilha Michele.
A médica pediatra Maria Márcia Nasser doou um rim ao seu marido, que sofria de rim policístico. “Nossas vidas, bem como de nossos filhos e netos, se tornaram infinitamente melhores”, conta Maria.
Como se tornar um doador:
- Converse com sua família: Avise seus familiares sobre sua decisão de ser um doador. Essa conversa é fundamental para que eles possam autorizar a doação em caso de falecimento.
- Carregue a sua carteira de doador: Existem carteiras de doador que podem ser obtidas em hospitais e postos de saúde. Ao portar essa carteira, você demonstra sua vontade de doar seus órgãos.
- Converse com seus amigos: Divulgar a importância da doação é uma forma de incentivar outras pessoas a tomarem a mesma decisão.
Para mais informações:
- Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/snt/doacao-de-orgaos
- CNN: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/dia-da-doacao-de-orgaos-permitiu-que-meu-marido-visse-crescimento-das-filhas/
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