Nesta segunda-feira (23), o Ibovespa fechou sua sessão em baixa de 0,38%, em 130.568,37 pontos. O índice brasileiro acabou apanhando de todos os lados, principalmente do cenário local e acumula perdas,
Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, comentou sobre o pregão de hoje, as perspectivas da últimas semanas, e a expectativa para o futuro da economia.
A especialista disse que a última semana foi marcada pela “Super Quarta”, em que o FED informou que continuará reduzindo as taxas de juros para evitar o enfraquecimento do mercado de trabalho. Ela destacou que, em contraste, o Brasil aumentou sua taxa de juros, elevando as taxas de longo prazo e gerando preocupações com o cenário fiscal do país.
Segundo Mendonça, esta semana trará importantes dados de PMI de diversos países. Ela observou que, na Europa, os números já mostraram uma atividade econômica fraca, com o PMI de serviços na França em 48,5 e na Alemanha em 40,3. Esses resultados reforçam a expectativa de cortes de juros nas próximas reuniões dos bancos centrais europeus e são um dos principais fatores por trás da alta recente do dólar.
Para o Brasil, Mendonça destacou que amanhã será divulgada a Ata do Copom, que deve explicar a decisão de aumento de juros, e que o tom do documento deverá ser mais duro. Ela acredita que “as projeções de inflação e PIB estão aumentando a cada semana, e se o governo não começar a realmente cortar os gastos, só o aumento da SELIC não vai adiantar para conter a inflação”. Também serão divulgados dados de confiança do consumidor na terça-feira, enquanto na quarta-feira haverá o IPCA-15, que poderá trazer mais clareza sobre o cenário inflacionário do país.
Nos Estados Unidos, Mendonça ressaltou a importância da leitura final do PIB americano, que será divulgada na quarta-feira e deverá mostrar como está o consumo e a renda dos norte-americanos. Já na sexta-feira, o PCE (índice de inflação preferido do FED) será divulgado, com a expectativa de alta de 0,2%, o que pode confirmar a tese de um pouso suave da economia americana e a continuidade da queda de juros.
Sobre o cenário fiscal brasileiro, Hemelin Mendonça chamou a atenção para o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (RARDP), que projetou um déficit de R$ 28,4 bilhões, mesmo com uma expectativa de melhora na arrecadação de 2024. Ela destacou que o relatório apontou a necessidade de bloquear mais R$ 2,1 bilhões para cumprir o limite de gastos deste ano. Segundo ela, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as despesas estão dentro das regras do arcabouço fiscal e que a meta fiscal será cumprida. Porém, Mendonça considerou a fala de Haddad controversa, já que os juros futuros estão precificando um aumento da inflação nos próximos anos, e o relatório FOCUS prevê a Selic a 11,50% e o IPCA a 4,37% para o final de 2024.
Sobe o mercado de capitais, Mendonça observou que a Bolsa brasileira fechou em queda, refletindo as preocupações com o cenário fiscal, mesmo com o ambiente externo favorável. Ela ressaltou que a entrada de capital estrangeiro ainda é um sinal de alerta para os investidores e que a desvalorização do real frente ao dólar também está relacionada à piora do cenário fiscal.
Ela destacou que as ações da Azul (AZUL4) registraram alta devido à renegociação de sua dívida, enquanto a Santos Brasil (STBP3) se valorizou após a venda de 48% de suas ações pelo Opportunity para a transportadora marítima de contêineres CMA CGM por R$ 15,30 por ação. Em contrapartida, Usiminas (USIM5) e B3 (B3SA3) fecharam em queda, pressionadas pela desvalorização do minério de ferro e pelas incertezas fiscais, respectivamente.