Em 20 de setembro de 2024, a American Cancer Society divulgou um relatório que aborda uma questão bastante preocupante para a comunidade LGBTQIA+: a possibilidade de prestadores de cuidados de saúde recusarem tratamento devido à identidade de gênero e orientação sexual. Este relatório intitulado “Câncer em pessoas que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer ou não-conformes de gênero (LGBTQIA+)” é o primeiro desse tipo e traz à tona várias questões importantes.
Essa preocupação é especialmente válida para os 20% da população dos EUA que residem em um dos nove estados onde é legal recusar cuidados a pessoas LGBTQIA+. Esses estados possuem “cláusulas de consciência” que permitem que equipes médicas e seguradoras neguem cuidados com base em suas crenças pessoais ou religiosas, criando um ambiente de incerteza para muitos indivíduos.

Aumento do risco de câncer na comunidade LGBTQIA+
Em comparação com a população em geral, as pessoas LGBTQIA+ nos EUA são mais propensas a fumar, a ter excesso de peso corporal e a ter outros fatores que aumentam o risco de câncer. Por exemplo, as mulheres bissexuais são duas vezes mais propensas do que as mulheres heterossexuais a fumar cigarros (23% versus 10%) e a consumir álcool em excesso (14% versus 6%). Pesquisas anteriores indicam que o “estresse das minorias” contribui significativamente para comportamentos que aumentam o risco de câncer.
Fatores que podem influenciar essa maior prevalência:
- Acesso à saúde: Barreiras para o acesso a serviços de saúde de qualidade podem levar a diagnósticos tardios e menor adesão aos tratamentos.
- Comportamentos de risco: Alguns estudos sugerem que a comunidade LGBTQIA+ pode apresentar taxas mais altas de comportamentos de risco, como tabagismo e consumo excessivo de álcool, que são fatores de risco para diversos tipos de câncer.
- Tratamentos hormonais: Pessoas transgênero que utilizam hormônios podem apresentar um risco aumentado para alguns tipos de câncer, como de mama e de próstata, dependendo do hormônio utilizado e da duração do tratamento.
- Condições de vida: Discriminação, estigma e preconceito podem levar a condições de vida mais precárias e estresse crônico, o que pode afetar o sistema imunológico e aumentar o risco de doenças, incluindo o câncer.
Quais Infecções causadoras de câncer são mais comuns em pessoas LGBTQIA+?
O relatório também destaca que infecções causadoras de câncer, como HIV, HPV e hepatite C, são consideravelmente mais elevadas em certos grupos LGBTQIA+. Por exemplo, pessoas infectadas pelo HIV correm maior risco de desenvolver pelo menos dez tipos de câncer. Além disso, o rastreamento de alguns tipos de câncer é baixo entre pessoas trans, o que agrava ainda mais os riscos.
Tipos de câncer mais frequentemente associados à comunidade LGBTQIA+:
- Câncer de mama: Embora o câncer de mama seja mais comum em mulheres cisgênero, homens trans e mulheres transgênero que fazem uso de hormônios femininos podem ter um risco aumentado.
- Câncer de próstata: Homens trans que fazem uso de hormônios masculinos podem ter um risco aumentado para o câncer de próstata.
- Câncer de colo de útero: Mulheres lésbicas e bissexuais podem apresentar taxas mais altas de câncer de colo de útero, devido à menor frequência de exames preventivos e ao maior número de parceiros sexuais.
- Câncer de pele: A exposição excessiva ao sol, comum em atividades ao ar livre, pode aumentar o risco de câncer de pele em toda a população, incluindo a comunidade LGBTQIA+.
- Linfomas e leucemias: Alguns estudos sugerem uma possível associação entre infecções pelo vírus do papiloma humano (HPV) e o desenvolvimento de linfomas e leucemias em homens que fazem sexo com homens.
Os profissionais de saúde estão preparados para tratar pessoas LGBTQIA+?
Um dos pontos críticos do relatório é a falta de preparo dos profissionais de saúde para tratar pessoas LGBTQIA+, especialmente pacientes transexuais. Apenas 25% dos estudantes de medicina afirmam estar confiantes em relação às necessidades de cuidados de saúde das pessoas transgênero, enquanto 30% dizem que não se sentiriam confortáveis tratando um paciente transgênero. Essa falta de confiança e desconforto pode resultar em cuidados inadequados e na relutância dos pacientes em procurar ajuda médica.
Esses dados destacam a necessidade urgente de uma melhor formação e sensibilização dos profissionais de saúde para garantir que todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual, recebam os cuidados necessários. Somente através de esforços direcionados e de uma mudança nas políticas de saúde poderemos garantir um acesso justo e igualitário para todos.
Fontes:
American Cancer Society: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38818898/
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