Segundo análise de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, o mercado global demonstrou um aumento na cautela nesta sexta-feira, impulsionado por incertezas em relação às futuras decisões de política monetária do FED e à aproximação de indicadores econômicos relevantes na próxima semana.
Esse cenário de cautela, na minha visão, também reflete uma correção após intensas apostas em cortes nas taxas de juros americanas, que, no início da semana, levaram as T-notes a seus menores níveis em quase dois anos.
Com o avanço dos juros dos Treasuries, o dólar se valorizou, especialmente em relação ao real, que havia se fortalecido por sete pregões consecutivos. Adicionalmente, vejo que a expectativa em torno do volume de bloqueios orçamentários a ser anunciado pelo governo federal contribui para a pressão sobre o câmbio. Esses fatores também elevaram as taxas dos contratos de DI, que já precificam quase 100% de probabilidade de um aumento de 0,50 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Copom, prevista para novembro. Com juros mais altos e preocupações fiscais, o Ibovespa caiu para a faixa dos 131 mil pontos, um nível não visto há aproximadamente um mês.
A aversão ao risco se tornou predominante nos mercados, refletindo incertezas sobre a condução da política monetária global, especialmente após a postura cautelosa dos bancos centrais do Japão e da China.
Além disso, as dúvidas em relação às contas públicas em 2025 intensificam o clima defensivo, em um dia de vencimento triplo de opções tanto nas bolsas dos Estados Unidos quanto no Brasil. O Índice Bovespa se encaminha para fechar a semana com uma queda significativa, com apenas oito ações apresentando valorização entre 86 listadas. Após iniciar o dia em 133.120,87 pontos, o Ibovespa aprofundou sua queda. Na minha opinião, esse movimento é reflexo das perdas nos índices de ações dos Estados Unidos e da Europa, além do aumento dos rendimentos dos Treasuries, que impactam negativamente a curva de juros brasileira e a cotação do dólar à vista.
Como consequência, ações mais sensíveis ao ciclo econômico, incluindo aquelas ligadas a commodities, foram penalizadas, mesmo com a estabilidade dos preços do petróleo e do minério de ferro. Olhando mais Brasil, o mercado aguarda a divulgação de detalhes do relatório de despesas e receitas do governo, que será apresentado pelo Ministério do Planejamento na próxima segunda-feira. Caso o relatório indique um compromisso com a responsabilidade fiscal, pode haver uma perspectiva mais otimista para o Ibovespa no final do ano.
Apesar das expectativas de manter as contas públicas dentro da meta em 2024, a incerteza sobre a situação fiscal em 2025 persiste. O ponto principal é, é possível alcançar equilíbrio neste ano, mas como ficará a situação fiscal em 2025? Lembrando que as possibilidades de receitas extras semelhantes às de 2024 são mais difíceis.
Destaques para as empresas exportadoras. As ações da Embraer sobem, uma das poucas ações a operarem no campo positivo em um dia marcado pelo pessimismo no mercado. O papel se beneficia da alta do dólar, cenário que tende a favorecer empresas exportadoras. TIM segue entre as altas do dia com ganhos. A alta é impulsionada pela elevação da recomendação para “outperform” pelo Scotiabank. BRF também está entre as poucas altas na sessão de hoje, com ganhos impulsionada pela alta do dólar e pelos preços dos grãos que estão mais descontados. Isso beneficia a companhia frente os outros pares.
Entre as quedas, temos ações mais sensíveis ao ciclo econômico, que são penalizadas, assim como as ligadas a commodities que estão sentindo as maiores desvalorizações do dia. CSNA3 liderando a ponta negativa do Ibovespa com queda seguido por MGLU3 e USIM5. Em relação ao câmbio, o pessimismo do mercado internacional desencadeou uma recomposição de posições no câmbio após o dólar registrar sete quedas consecutivas em relação ao real, resultando em uma desvalorização de 4,09%.
Com o primeiro impacto das decisões de política monetária do Brasil e dos Estados Unidos já refletido, já era esperado uma “acomodação” nas cotações. No entanto, indícios de que outros bancos centrais adotarão uma abordagem mais cautelosa impulsionaram um movimento mais robusto, dando novo fôlego ao câmbio. Durante o dia, o dólar à vista atingiu R$ 5,4991 (+1,38%), enquanto o contrato futuro para liquidação em outubro alcançou R$ 5,505 (+1,41%). O Dollar Index (DXY), que mede a variação da moeda americana em relação a uma cesta de divisas fortes, alcançou 101,015 pontos.
Na Ásia, tanto o Banco do Japão (BoJ) quanto o Banco do Povo da China (PBoC) mantiveram suas taxas de juros inalteradas. No Japão, essa manutenção era esperada, mas o presidente do BoJ adotou uma postura cautelosa em relação ao aperto monetário, pedindo mais tempo para avaliar as incertezas econômicas. Na China, havia a expectativa de um corte de juros, com o PBoC sob pressão devido a preocupações com a lucratividade bancária e a queda nos rendimentos de longo prazo.
Na Europa, os mercados também corrigiram sua euforia, à luz de sinais de que os bancos centrais da região serão mais cautelosos em comparação ao Fed. A correção do dólar já era antecipada após as sete quedas consecutivas, sendo esse movimento principalmente influenciado por fatores externos. Há também um espaço para cautela antes da divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas, que está previsto para o final da tarde.
A alta expressiva dos juros futuros nesta sexta-feira acompanha o movimento do dólar e o aumento dos rendimentos dos Treasuries, levando o mercado a elevar suas expectativas de que o Banco Central possa acelerar o aperto monetário nas próximas reuniões. Por um lado, há o tom conservador do comunicado do Copom, e, por outro, a perspectiva de cortes de juros mais modestos nos Estados Unidos, em meio a preocupações sobre a deterioração das contas públicas.
As atenções agora se voltam para a ata do Copom, que será divulgada na próxima terça-feira. Agora para a próxima semana, reta final de setembro, teremos uma agenda carregada de indicadores e eventos no Brasil. Na terça-feira (24), o Banco Central (BC) divulga a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) com detalhamento sobre a decisão de elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,75%. Na quarta-feira (25), será conhecido o IPCA-15 de setembro. Na quinta-feira (26), o BC volta à cena com a publicação do Relatório de Inflação (RI) do terceiro trimestre, com entrevista de dirigentes para comentar o documento. No mesmo dia, há previsão da divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referentes a agosto. Na sexta-feira (27), tem a definição da Aneel sobre a bandeira tarifária que vai vigorar em outubro e a divulgação da Pnad Contínua, com dados do mercado de trabalho no trimestre até agosto.
No exterior, o destaque é o índice de preços dos gastos com consumo PCE de agosto nos EUA, que sai na sexta-feira. Além disso, a versão final do PIB do segundo trimestre dos EUA será anunciada na quinta-feira e deve evidenciar um crescimento robusto da economia norte-americana. A programação da semana também inclui uma série de pronunciamentos de integrantes do Federal Reserve.
Dados de fechamento do Ibovespa
- Ibovespa: 131.065,44 (-1,55%)
- S&P 500: 5.702,59 (-0,19%)
- Nasdaq: 17.948,32 (-0,36%)
- Dow Jones: 42.061,85 (+0,09%)
- Dólar: R$ 5,52 (+1,78%)
- Euro: R$ 6,16 (+1,77%)