O retorno da rede social X (antigo Twitter) em algumas cidades brasileiras, como São Paulo e Belo Horizonte, desde as primeiras horas de uma quarta-feira, pegou todos de surpresa. Em um contexto de suspensão ordenada pelo STF, a reativação da plataforma gerou grande repercussão entre usuários e autoridades. Essa reativação foi resultado de uma complexa manobra técnica que levantou debates sobre a legalidade e as possíveis consequências da ação.
Desde o dia 31 de agosto, uma decisão do ministro Alexandre de Moraes determinava a suspensão do funcionamento do X no Brasil. No entanto, a rede social voltou a funcionar parcialmente, gerando novas decisões judiciais e multas contra a empresa de Elon Musk. Mas como isso foi possível e qual o impacto dessa manobra técnica?
Como o X driblou o bloqueio imposto pelo STF?
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil explicam que o retorno da rede foi possível graças a uma alteração na forma de hospedagem do seu conteúdo. Anteriormente, o X utilizava seus próprios provedores, mas passou a utilizar uma rede terceirizada chamada Cloudflare. Essa mudança impediu que o bloqueio feito pelas operadoras brasileiras continuasse tendo efeito.
Quais são as implicações do uso da Cloudflare?
Segundo Thiago Ayub, diretor de tecnologia da Sage Networks, o X passou a usar os serviços da Cloudflare, uma das principais empresas de hospedagem e cibersegurança do mundo. Com isso, o conteúdo da rede social passou a ser acessado por meio de novos endereços IP, não inclusos na lista de bloqueios original do STF.
O bloqueio da Cloudflare é uma solução viável?
Ayub acredita que um bloqueio da Cloudflare afetaria não só o X, mas também várias outras empresas e serviços importantes, inclusive plataformas bancárias e o sistema de pagamento via Pix. David Nemer, especialista em antropologia da tecnologia, também ressalta que a alternativa mais técnica seria a Cloudflare realizar o bloqueio, algo que a empresa ainda não realizou.
A manobra foi intencional?
Diante da situação, surgiram debates sobre a intencionalidade da manobra. Ayub sugere que ainda não há evidências claras para afirmar que a mudança foi uma tentativa deliberada de burlar a decisão judicial. Contrariamente, Nemer aponta que somente no Brasil a rede utilizou a Cloudflare, enquanto em outros países segue utilizando seus próprios servidores, indicando uma possível intenção específica.
Os próximos passos e as implicações legais
Além das questões técnicas, o caso levanta questionamentos jurídicos. A Cloudflare deve cooperar com os órgãos brasileiros? O X continuará desafiando as ordens judiciais? Essas são perguntas que ainda permanecem sem resposta definitiva.
Em meio a esse cenário, a Anatel e o STF seguem acompanhando a situação de perto. Até o momento, nenhuma solução definitiva foi apresentada, e a situação continua a evoluir. Fica claro que a batalha entre a rede de Musk e as entidades brasileiras representa não apenas uma questão técnica, mas também um dilema jurídico e ético sobre a liberdade de expressão e o cumprimento das leis.