Bolsas no mundo surfam o primeiro corte nos juros dos EUA desde 2020. No Brasil, porém, prevalece o tom mais duro no comunicado do BC. Juros futuros subiram firme, apontando para novas altas da Selic, e por isso exerceram pressão negativa sobre o mercado de ações brasileiro.
Segundo análise de Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, hoje o Ibovespa opera em queda com o mercado digerindo o comunicado do Copom, considerado mais hawkish.
Nos EUA, tivemos a decisão do Federal Reserve (Fed) de baixar os juros nos Estados Unidos para a faixa de 5,00%. O discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, sugeriu que os EUA estão vigilantes e o mercado espera mais um corte de 0,25 na próxima reunião, o que trouxe alívio ao mercado e aumentou o apetite por risco la fora.
Essa perspectiva beneficiou tanto os ativos de renda variável quanto o enfraquecimento do dólar frente ao real, que caiu. A decisão do FED atrai dinheiro de risco para o mercado americano que está forte, que inclusive faz nova máxima histórica no dia de hoje.
O investidor de renda variável avalia o cenário e move esse recurso de um mercado para o outro avaliando o risco e o retorno. E nesse caso a bolsa americana parece estar mais atrativa do que o IBOV tendo em vista que o Fed começa a baixar juros, o que pode favorecer as empresas por lá e melhorar ainda mais os seus resultados. E por aqui o contrário, com o aumento de juros novamente, que pode afetar os resultados das empresas ali na frente.
A decisão do Copom de elevar a Selic em 0,25% apesar de “esperada e precificada” pelo mercado, acabou afetando os ativos domésticos e com a expectativa do mercado de mais aumentos nas próximas reuniões trouxe uma continuação do movimento de realização dos últimos dias.
As maiores altas no Ibovespa estão relacionadas ao setor de minério de ferro, que sobe hoje, com destaque para CMIN3, CSAN3 e VALE3 além de MRFG3 e BRFS3 sem um driver especifico para esses ativos.
Entre as quedas, empresas mais expostas à alta de juros internos ou com menor apelo internacional, como o setor de varejo e consumo, como é o caso de CVCB3, ASAI3, RDOR3 e VAMO3, que se prejudicam de um cenário com juros mais altos.
Vejo que o início de cortes de juros EUA que era tão aguardado não amenizou o pedido por maior prêmio nas curvas de juros aqui do Brasil. Mesmo com o COPOM aumentando juros, o mercado segue com o pensamento de que para investir aqui eles precisam de mais prêmio de risco, impulsionando os juros futuros para cima, sinalizando um maior estresse nos vencimentos de longo prazo, fazendo com que mesmo com a queda do dólar todos os vértices terminem o dia em alta.
Até agora, a semana foi marcada por otimismo com o Fed e a perspectiva de um cenário mais favorável para o mercado americano em alguns países emergentes com exceção do Brasil que voltou a aumentar juros em uma eterna guerra para trazer a inflação para o centro da meta, e como não podia ser diferente, juros para cima é bolsa para baixo.
Meu maior receio ainda está nessa madrugada com a decisão do juros no Japão que já deu mostras do que pode fazer com os mercados pelo mundo. Imagino que a próxima semana deva trazer mais movimentos de correção para o IBOV.
Confira aqui os dados de fechamento do Ibovespa e demais índices:
- Ibovespa: 133.122,67 (-0,47%)
- S&P 500: 5.713,67 (+1,70%)
- Nasdaq: 18.013,98 (+2,51%)
- Dow Jones: 42.025,45 (+1,26%)
- Dólar: R$ 5,42 (-0,69%)
- Euro: R$ 6,05 (-0,22%)