O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no Brasil, apresentou uma leve queda de 0,02% em agosto, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (10). Esse é o primeiro registro de deflação no ano e a menor variação desde junho de 2023, quando o índice recuou 0,08%. O resultado representa uma desaceleração em relação ao mês anterior, que havia registrado alta de 0,38%.
A divulgação do IPCA de agosto ocorre pouco antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para o dia 18 de setembro, quando será decidida a nova taxa Selic, atualmente em 13,25% ao ano. O resultado do índice pode influenciar as expectativas do mercado e a decisão do Banco Central sobre a magnitude do corte da taxa de juros.
Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM, o resultado de agosto pode reduzir a expectativa de aumentos significativos na Selic. “A deflação de agosto é a primeira do ano e deixa o IPCA em 12 meses em 4,24%, bem abaixo do teto da meta. Em minha avaliação, o Copom da semana que vem deve considerar esse número em sua decisão. O mercado deve calibrar as apostas de elevação da taxa para somente 25 pontos, quiçá nem elevação, já que o número de hoje é encorajador, embora não seja o cenário mais provável”, disse. Ele também destacou a influência de fatores externos, como a bandeira vermelha na energia elétrica, que deve pressionar a inflação nos próximos meses.
A economista Ariane Benedito ressaltou que, apesar da leve deflação registrada em agosto, o setor de serviços ainda exerce forte pressão sobre a inflação, especialmente com o mercado de trabalho aquecido e o aumento da renda média. Segundo Benedito, esse aquecimento pode prolongar a pressão inflacionária nos próximos meses, dificultando o cumprimento da meta de inflação, o que exige cautela nas decisões de política monetária. Ela também destacou a importância de acompanhar o impacto dos preços administrados, como a bandeira tarifária, que pode reverter a recente desaceleração.
Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que o IPCA mais favorável se soma a outros fatores positivos para a manutenção da Selic. “No que se refere à política monetária, avaliamos que a divulgação favorável do índice se soma a diversos outros fatores, como o cenário internacional. Todas as declarações de diretores do BC reafirmaram a dependência dos dados para a tomada de decisão, o que faz com que a surpresa baixista e estruturalmente benigna do IPCA deixe a possibilidade de manutenção da Selic bem viva”, afirmou.
Por outro lado, Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, acredita que ainda há espaço para um corte maior na taxa. “Esse número de agosto também coloca alguma nuvem na decisão da Selic. Pode abrir espaço para 0,25, apesar de acreditar ainda que 0,5 seria o mais adequado nesse momento. O IPCA ainda tende a fechar no final do ano em 4,5%”, ponderou.
Outros detalhes do IPCA
Dois grupos de consumo foram os principais responsáveis por puxar a deflação em agosto: Alimentação e bebidas, que teve retração de 0,44%, e Habitação, com queda de 0,51%. Juntos, esses dois grupos representam 36,53% do cálculo do IPCA e contribuíram com uma redução de 0,17 ponto percentual (p.p.) no índice geral.
Com isso, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 4,24%, dentro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No acumulado de 2024, a alta é de 2,85%.
Com a inflação acumulada em 4,24% nos últimos 12 meses e o resultado de agosto sendo um indicativo de desaceleração, o mercado permanece atento aos sinais emitidos pelo Banco Central e à evolução do cenário econômico.