Nesta sexta-feira (06), foi divulgado o relatório de emprego dos Estados Unidos (Payroll), que indicou a criação de 142 mil novas vagas em agosto, abaixo da previsão de 163 mil vagas.
Além disso, o número de empregos de julho foi revisado de 114 mil para 89 mil, gerando preocupação nos mercados financeiros. A revisão negativa trouxe dúvidas sobre a força da recuperação econômica, impactando os juros dos Treasuries, que voltaram a cair.
A taxa de desemprego recuou ligeiramente para 4,2%, em linha com as expectativas, ante os 4,3% registrados no mês anterior. O salário médio por hora, por outro lado, subiu 0,4% em agosto, superando a previsão de 0,3%, o que pode indicar pressões inflacionárias persistentes.
A revisão do payroll e os sinais mistos sobre a recuperação econômica geram incertezas sobre a próxima decisão de política monetária do Federal Reserve, com os mercados monitorando de perto a resposta da autoridade monetária aos novos dados.
O que dizem os especialistas:
O estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, destacou que os dados de criação de vagas nos Estados Unidos vieram abaixo das expectativas, principalmente devido à revisão para baixo dos números do mês anterior. “Os dados foram abaixo do esperado, principalmente com a revisão muito para baixo do mês anterior. O desemprego, porém, caiu conforme projetado, de 4,3% para 4,2%, o que ainda é considerado estimulativo para a economia”, afirmou Cruz. Ele também mencionou a surpresa no aumento dos salários, que subiram de 0,3% para 0,7%, ressaltando que a base anterior foi revisada para baixo, o que pode ter contribuído para esse salto.
Cruz apontou que o comportamento salarial é uma questão importante para o futuro da inflação. “A preocupação está nos salários, que podem ser uma prévia do que vai aparecer na inflação”, comentou. Sobre os setores, ele destacou que a construção teve um desempenho positivo, crescendo quase o dobro da média dos últimos meses, enquanto a indústria surpreendeu negativamente com a perda de 24 mil vagas em agosto. O setor de saúde, que vinha gerando cerca de 60 mil empregos mensais, também registrou uma desaceleração, criando apenas 31 mil novas vagas.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, compartilhou uma visão similar, chamando a atenção para os números de criação de empregos que, além de abaixo do esperado em agosto, sofreram uma revisão significativa para baixo em julho. “A criação de emprego para o mês veio levemente abaixo do esperado, mas o número de julho, que já era inferior às expectativas, foi revisado para apenas 89 mil vagas”, explicou Alves, acrescentando que esses números sugerem uma desaceleração no ritmo de contratações e podem sinalizar um abrandamento da atividade econômica.
Apesar disso, Alves considerou a queda da taxa de desemprego para 4,2% um indicador de que o mercado de trabalho ainda mantém um nível saudável, sem um aumento significativo nos despedimentos. Ele também destacou que os salários acima das expectativas, com um crescimento de 0,4% no mês e 3,8% no ano, reforçam o poder de compra dos trabalhadores, o que contribui para a saúde dos consumidores. “Os dados de salários mostram que o trabalhador americano continua a ter ganhos reais acima da inflação”, afirmou.
Por fim, Alves observou que o mercado está ajustando suas expectativas para a próxima reunião do Federal Reserve, prevista para 18 de setembro. A probabilidade de um corte de 0,5% nos juros aumentou, superando as chances de um corte de 0,25%, segundo o CME FedWatch Tool. O mercado de ações reagiu negativamente aos dados mistos do payroll, com os investidores preocupados com o impacto de uma possível desaceleração econômica.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, também analisou o cenário e fez considerações sobre a política monetária do Federal Reserve.
Para ele, a expectativa é de um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros na próxima reunião. “Na minha opinião, a expectativa é realmente de uma queda de 0,25 pp. O ideal é fazer uma primeira redução em 0,25, o mercado não está em hard landing. E depois serem avaliados novos dados para a tomada de próximas decisões”, comentou Cohen. Ele também apontou que seria arriscado um corte de 0,50 ponto percentual neste momento. “Acho um risco muito grande reduzir 0,50 agora e eles não devem fazer isso. Pode ser que na próxima decisão isso mude, com mais informações que tragam segurança para o Fed aumentar o ritmo”, acrescentou.