A recuperação judicial tem ganhado espaço em diversos setores da economia, e agora o futebol brasileiro também se vê diante dessa realidade. No caso do São Caetano Futebol Clube, a decisão de adotar esse recurso revela os desafios financeiros enfrentados pelos clubes e o caminho que precisam trilhar para se reerguer.
Em entrevista ao programa Você Comdinheiro, Álvaro Barbosa, coordenador jurídico do clube, trouxe insights importantes sobre o processo de recuperação judicial no futebol. Segundo ele, muitos clubes no Brasil ainda são organizados como associações sociais, o que limita suas opções para lidar com superendividamentos. “A maioria dos clubes, tradicionalmente, são associações sem fins lucrativos, o que complica o acesso a ferramentas jurídicas de reestruturação”, explicou Barbosa.
A profissionalização dos clubes de futebol: Um caminho inevitável
Nos últimos anos, clubes como o São Caetano passaram por transformações jurídicas para se tornarem empresas limitadas ou sociedades anônimas do futebol (SAF). Esse movimento foi impulsionado pela Lei Pelé, que ofereceu maior segurança jurídica para marcas e patrimônios dos clubes. “A profissionalização é essencial. Ela traz segurança para investidores, funcionários e jogadores, garantindo que o clube funcione como uma empresa”, destacou o coordenador jurídico.
No caso do São Caetano, a transição foi necessária para enfrentar as dívidas acumuladas ao longo dos anos. Segundo Barbosa, “o clube chegou a um ponto em que precisávamos separar a associação social da empresa limitada que administra o futebol”. Essa separação permitiu maior controle e organização financeira, possibilitando a entrada em recuperação judicial.
Como a recuperação judicial pode salvar um clube?
Barbosa explicou que a recuperação judicial é um processo jurídico que permite a reestruturação das dívidas de uma empresa para evitar a falência. No caso do São Caetano, isso significa trabalhar com credores e investidores para equilibrar as contas do clube. “Precisamos garantir um fluxo de caixa que permita ao clube pagar suas dívidas, enquanto buscamos novos investimentos e parcerias”, afirmou.
Entre as principais fontes de receita do clube, Barbosa citou as escolinhas de futebol, a cessão de direitos de jogadores para outros clubes e os direitos de imagem. “São Caetano chegou a ter 473 escolinhas licenciadas, o que mostra o potencial de gerar receita fora das quatro linhas”, disse ele.
Parcerias e o futuro do São Caetano
Um ponto central da reestruturação do São Caetano envolve a busca por investidores e parceiros comerciais. O coordenador jurídico mencionou que o clube tem firmado parcerias estratégicas que ajudam a garantir sustentabilidade financeira. “Estamos em uma região com grandes oportunidades. As parcerias às vezes não envolvem dinheiro diretamente, mas trazem estrutura e credibilidade, o que é essencial para o nosso crescimento”, explicou Barbosa.
O objetivo do clube é claro: voltar às divisões de elite do futebol brasileiro. Apesar dos desafios, o coordenador jurídico se mostrou otimista: “Nosso plano é estar na Série A nos próximos cinco anos”. Esse otimismo é apoiado pelo histórico recente de clubes como o Red Bull Bragantino, que conseguiu se reerguer após um processo de reestruturação e hoje é um exemplo de sucesso.
Uma nova era para os clubes brasileiros?
A recuperação judicial pode ser o primeiro passo para muitos clubes brasileiros que, como o São Caetano, enfrentam dificuldades financeiras e buscam uma forma de se manter competitivos. A profissionalização do futebol no Brasil é um caminho sem volta, e casos como o do São Caetano mostram que, com a estratégia certa, é possível transformar desafios em oportunidades.