O preço do barril de petróleo no mercado internacional tem mostrado uma queda acentuada nos últimos meses, chegando a 30% de redução em relação ao ano anterior. Esse movimento global é impulsionado pela reabertura de produções em países como a Líbia e pelas discussões dentro da Opep+ sobre o aumento da oferta de petróleo, projetada em 180 mil barris diários a partir de outubro. Esse cenário tem levado analistas a debater a possibilidade de uma redução nos preços dos combustíveis no Brasil, sobretudo na gasolina e no diesel.
De acordo com Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, essa queda pode abrir espaço para a Petrobras rever seus preços, visto que a empresa alinha os preços internos com as cotações internacionais do petróleo. “A defasagem da gasolina em relação ao Brent e à gasolina internacional, em nossos cálculos, permanecem aumentando, ou seja, o espaço para queda nos preços na refinaria está alargando. A nossa conta de defasagem indica um espaço de 11% de queda para a gasolina, considerando a média dos últimos 15 dias. Simulando uma queda da gasolina na refinaria de 11%, significa na bomba queda de 4% e o impacto no IPCA é de 20 pontos base”, disse.
Por outro lado, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, descartou qualquer possibilidade de redução dos preços no curto prazo. “Não vamos fazer nada com isso. Estamos confortáveis com o nível dos preços”, disse Chambriard, mencionando que, apesar da queda do petróleo no mercado internacional, o preço dos combustíveis no Brasil está equilibrado.
A presidente da estatal ainda destacou que o preço atual dos combustíveis praticado pela Petrobras já é inferior ao de 20 meses atrás, mas que a população não percebe essa diferença devido às margens adicionadas no processo de distribuição e revenda. “O preço que trabalhamos hoje com todos os combustíveis é menor do que o preço de 20 meses atrás. A população não percebe isso. Não é um assunto direto, por conta das margens que são agregadas, com distribuição e revenda”, explicou a presidente. “A queda no preço da gasolina e do diesel pode trazer um equilíbrio para essa inflação. Você tem essa percepção, e sem ter uma visão de que o governo estaria tendo interferência na Petrobras, porque a conjuntura está propícia para isso”, comentou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Para ele, o impacto de uma possível redução dos preços dos combustíveis poderia pressionar as receitas da Petrobras em um momento em que a empresa se comprometeu com investimentos robustos em áreas estratégicas. “Para o governo, por um lado tem inflação mais baixa, por outro a arrecadação de dividendos da Petrobras fica menor. A gente sabe que tem fechado ano após ano com um grande apoio das estatais, em específico da Petrobras, na colaboração do fiscal em dividendos”, comentou.
Outro fator importante a ser considerado é o custo de extração de petróleo pela Petrobras, conhecido como lifting cost. A empresa possui um dos menores custos de extração entre as grandes petroleiras globais, o que garante uma maior resiliência em momentos de queda no preço internacional do barril. Esse baixo custo de produção permite que a Petrobras continue gerando receitas significativas, mesmo em cenários de volatilidade no mercado global. Como resultado, as receitas da companhia não dependem diretamente de um preço elevado do petróleo, o que dá à empresa uma vantagem competitiva em relação a outras companhias do setor, especialmente em momentos de pressão de preços.
Apesar dessa vantagem operacional, a Petrobras tradicionalmente negocia com um desconto natural no seu valuation em comparação com outras grandes petroleiras internacionais, devido ao seu status de estatal. Esse desconto reflete as incertezas que o mercado associa à interferência política e ao controle governamental sobre a empresa, o que pode impactar decisões estratégicas e de investimento. Embora a empresa apresente uma forte performance operacional, o fato de estar sujeita a mudanças na política econômica do governo acaba influenciando seu valor de mercado, gerando uma percepção de maior risco em relação às concorrentes privadas. “A notícia dos jornais que mais de 100 pessoas sendo indicadas pela equipe política do governo da empresa, a gente já viu esse filme anteriormente. Pode ser que dessa vez não dê o problema que deu, mas esse filme já foi passado aqui no Brasil e a gente sabe o desastre que aconteceu com a companhia com desvio de expertise para outros fins e para muita corrupção”, finaliza Cruz.