Após baixa histórica nesta semana das ações da Americanas, muitos investidores se perguntam: é possível que uma ação negociada na Bolsa de Valores simplesmente suma, “vire pó” como se diz no mercado? Pode parecer estranho, mas uma ação pode, sim, chegar a valer zero. A Bolsa de Valores não limita as perdas, mas classifica ações que caem abaixo de R$ 1 como “penny stocks”, removendo-as de seus índices.
Eduardo Becker, professor de mercado de capitais da B3 Educação, explica que uma empresa nessa situação pode promover grupamentos de ações para evitar que o valor atinja zero. “Se uma empresa fizer um agrupamento de 100 para 1, o preço da ação volta a R$ 1,00 novamente. E se continuar caindo, pode fazer outro agrupamento”, exemplifica Becker, mencionando que essa técnica impede que a ação chegue a zero.
Se a ação zerar, a empresa vai à falência?
O fato de uma ação chegar perto de zero não necessariamente indica que a empresa irá falir. Empresas podem declarar falência mesmo com ações longe dos centavos, como aconteceu com a mineradora MMX (MMXM3), cuja ação estava a R$ 14,00 quando parou de ser negociada após a quebra. Já a petroleira OGX (OGXP3) chegou a valer R$ 0,13 no seu último dia como parte do Ibovespa, mas não decretou falência, sendo recuperada judicialmente e posteriormente renomeada como Dommo Energia.
A Americanas corre risco de falência?
Após a descoberta da fraude contábil, a Americanas recorreu à recuperação judicial para evitar a falência. Esse mecanismo permite à empresa renegociar suas dívidas com o apoio da Justiça, evitando o fechamento de lojas e a demissão de funcionários. Rafael Santana Coelho, advogado especializado em recuperação judicial, afirma que o risco de falência sempre existe em processos de reestruturação, mas destaca que a Americanas tem cumprido os termos da recuperação judicial.
Do ponto de vista das ações, Eduardo Becker observa que a Americanas já enfrentava dificuldades antes da descoberta das fraudes, com prejuízos desde 2011. Com uma dívida de R$ 38,8 bilhões e patrimônio líquido negativo de R$ 30 bilhões, o cenário exige cautela. “A Americanas precisará de investidores e aportes de capital para voltar a ser uma empresa atrativa”, conclui Becker.
O que diz a Americanas?
Em nota, a Americanas declarou que “cada investidor possui uma estratégia própria de investimento” e que “o papel da companhia é oferecer informações e transparência para a melhor compreensão dos negócios e do potencial de criação de valor para os acionistas”. Com a conversão de ações e a reestruturação da dívida, a empresa afirma estar entrando numa nova fase de sua trajetória de 95 anos no varejo brasileiro, focada na geração de caixa sustentável, otimização do negócio e criação de novas oportunidades de crescimento.