Na primeira metade de 2024, a balança comercial brasileira registrou o segundo maior superávit da série histórica, refletindo a robustez das exportações nacionais.
No entanto, os números da indústria de transformação desenham um cenário preocupante. Com um déficit de US$ 28,4 bilhões, o mais alto da última década para o período, o setor enfrenta desafios crescentes, particularmente na área automotiva.
Os produtos relacionados ao setor de automóveis, incluindo reboques e carrocerias, somaram um déficit recorde de US$ 6,57 bilhões nos primeiros seis meses de 2024, um valor mais de três vezes superior aos US$ 1,94 bilhão registrados no mesmo período do ano anterior. Este aumento é atribuído principalmente à importação de veículos elétricos da China, que têm inundado o mercado brasileiro.
Roberto Dumas, mestre em economia, comentou sobre a origem desse déficit alarmante, apontando para as mudanças no modelo econômico chinês como um dos principais fatores. “O déficit comercial da indústria foi principalmente causado pelos carros chineses. Após o estouro da bolha imobiliária na China, o governo direcionou seu foco para apoiar as indústrias, incentivando a exportação como uma forma de manter o crescimento econômico,” explicou Dumas.
Ele destacou que a China, enfrentando uma demanda doméstica fraca, está utilizando suas indústrias para produzir em larga escala e exportar para mercados como o Brasil, Estados Unidos e Alemanha.
Esse movimento, segundo Dumas, é parte de uma estratégia para evitar as potenciais tarifas que podem ser impostas pelos Estados Unidos caso Donald Trump seja reeleito.
Além disso, o economista ressaltou a falta de competitividade da indústria brasileira como um agravante para o déficit. “A mudança no modelo econômico chinês, que agora incentiva a indústria em vez do setor imobiliário, resultou em uma inundação de produtos chineses no Brasil, especialmente carros elétricos, painéis solares e baterias,” concluiu Dumas.
A situação da balança comercial da indústria de transformação no Brasil levanta questões sobre a capacidade do país em competir globalmente, especialmente diante das estratégias econômicas agressivas de nações como a China.
Com o setor automotivo no centro desse desafio, o governo brasileiro precisará repensar suas políticas para proteger e fortalecer a indústria nacional nos próximos meses.