Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento em diferentes governos, faleceu nesta segunda-feira (12), em São Paulo, aos 96 anos. A informação foi confirmada por familiares e amigos próximos. Economista de formação, Delfim Netto ocupou posições de destaque no governo brasileiro, sendo conhecido principalmente por sua atuação no “Milagre Econômico” dos anos 1970, período em que o país registrou elevado crescimento econômico.
Ao longo das décadas, Delfim Netto foi uma figura de referência nos debates econômicos nacionais, contribuindo com análises e conselhos para sucessivos governos, mesmo após deixar o cenário político ativo.
“Ele foi um grande pensador econômico, botou o Brasil na rota do grande milagre econômico, abraçou uma série de ideias de proteção à indústria nascente, investimento alto de capital, uma série de atividades em áreas chave da economia brasileira. No entanto, tem o seu lado da preocupação. Que as políticas econômicas que ele elaborou e executou, principalmente durante o período militar, foram a gênese do fechamento econômico brasileiro. Ele cometeu um grande erro nisso em acreditar que o Brasil fosse crescer muito do ponto de vista econômico, que conseguiu fazer isso, sim, um milagre econômico”, declarou o economista Vandyck Silveira sobre Delfim Netto.
O economista era uma presença constante na mídia, oferecendo suas opiniões sobre as políticas econômicas do país e participando de discussões sobre os rumos da economia nacional.
Ele deixa um legado complexo e polêmico, tendo sido criticado por suas medidas durante a ditadura, mas também respeitado por sua capacidade de articulação e conhecimento profundo da economia. Sua frase célebre dizia: “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”, uma alusão à linha desenvolvimentista.
Trajetória
Delfim foi o mais jovem ministro da Fazenda a ocupar o cargo, aos 38 anos de idade. O ano era em 1967 e ele e comandou a economia nos governos militares de Costa e Silva e Médici. Foi um dos ministros que assinaram, em 1968, o Ato Institucional número 5, o AI-5, o mais repressivo da ditadura militar.
Ele dizia não saber que o país vivia uma ditadura. Numa entrevista em 2021, o economista disse que voltaria a assinar o decreto: “Eu voltaria a assinar o AI-5. Eu tenho dito isso sempre. Aquilo era um processo revolucionário, vocês têm que ler jornais daquele momento. As pessoas não conhecem história, ficam julgando o passado, como se fosse o presente. Naquele instante foi correto, só que você não conhece o futuro”, afirmou ao UOL.
“Delfim ocupou uma fatia importante da história econômica brasileira. Errando e acertando era o que díspunhamos, entre outros poucos, para atravessar a sucessão de crises desde os anos 60”, declarou o jornalista Alberto Morelli.
O velório será realizado em São Paulo, em cerimônia fechada para amigos e parentes. Ele estava internado desde o começo de agosto no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo, por conta de complicações em seu quadro de saúde. Delfim Netto deixa esposa, filhos e netos.