A Petrobras divulgou prejuízo de R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre de 2024, revertendo lucro de r$ 28,7 bilhões do ano anterior. O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado devido a eventos não recorrentes, como os efeitos da transação tributária, despesas tributárias e perdas com a revisão atuarial do plano de saúde. A variação cambial também impactou negativamente o resultado financeiro, contribuindo para o prejuízo inesperado da companhia. O comunicado diz que o resultado líquido do trimestre deve ser analisado à luz de eventos que impactaram o resultado contábil, mas sem impacto relevante no caixa da empresa..
A última vez em que a companhia havia registrado prejuízo havia sido no terceiro trimestre de 2020, com R$ 1,5 bilhão.
O que dizem os analistas
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, destacou que o mercado está de olho em dois pontos principais no balanço divulgado. Primeiro, ele ressaltou o pagamento de dividendos no valor de US$ 2,6 bilhões, que superou as expectativas do mercado. Contudo, a grande surpresa foi o corte no Capex, com os investimentos sendo reduzidos de US$ 18 bilhões para um intervalo de US$ 13 a 14 bilhões. Cruz comentou sobre a chegada da nova liderança na companhia e a expectativa de aceleração nos investimentos, como havia sido solicitado pelo presidente Lula. No entanto, ele apontou que a realidade foi diferente, com uma revisão dos investimentos que o mercado provavelmente verá com bons olhos, afastando preocupações de que a nova gestão estaria investindo indiscriminadamente para agradar o governo. Apesar do prejuízo ser o destaque nas manchetes, Cruz enfatizou que “o resto não foi ruim” e que o Ebit de US$ 12 bilhões, junto com o corte nos investimentos, são fatores que o mercado considerará positivamente.
Marco Saravalle, estrategista-chefe da MSX Investimentos, concentra sua análise na metodologia de fluxo de caixa, destacando que a empresa continua gerando um volume significativo de caixa. Ele observou que o fluxo de caixa operacional permaneceu em linha com o segundo trimestre do ano passado, e o fluxo de caixa livre, embora ligeiramente abaixo do mesmo período, ainda gerou mais de R$ 30 bilhões. Saravalle alertou para uma tendência de queda no retorno sobre o capital empregado, especialmente em empresas maduras como a Petrobras. Segundo ele, essa é uma preocupação central, pois reflete como a companhia está utilizando seus recursos em novos projetos e o retorno marginal desses investimentos. Ele também abordou a expectativa do mercado em relação aos dividendos, mencionando que a distribuição atual está alinhada com a política da empresa, mas que há incertezas quanto à possibilidade de uma distribuição extraordinária no segundo semestre. “Acho que hoje é cada vez mais questionável se nós vamos ter aquela distribuição adicional do Dividend Yield extraordinário no segundo semestre”, afirmou Saravalle, destacando que o mercado deve trabalhar com diferentes cenários diante dessa incerteza.
Qual o impacto no mercado?
Fred Nobre destacou que o prejuízo registrado pela Petrobras, o primeiro desde 2020, pode gerar interpretações precipitadas, especialmente associando o resultado à gestão do governo atual. No entanto, ele explicou que o prejuízo é resultado de fatores não recorrentes. O primeiro desses fatores foi o acordo com o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), relacionado a uma disputa judicial sobre contratos de afretamento de plataformas e embarcações, que a Petrobras resolveu recentemente. Embora essa resolução tenha sido bem recebida pelo mercado, ela afetou negativamente o resultado financeiro da empresa.
Além disso, Nobre mencionou que uma variação cambial também impactou o lucro líquido da Petrobras, mas que essa variação não afetou a geração de caixa da companhia, pois se tratava de uma marcação a mercado de contratos derivativos de câmbio. Quando esses efeitos são desconsiderados, o lucro líquido ajustado foi de US$ 5,4 milhões, semelhante ao trimestre anterior. “As projeções ficaram um pouco distorcidas por conta desses dois efeitos, mas não há nada que traga muitas preocupações nesse sentido”, afirmou Nobre.
Ele também apontou pontos positivos no balanço, como a expectativa de distribuição de dividendos a partir das reservas de lucro da companhia e a redução do Capex, de US$ 18,5 bilhões para uma faixa entre US$ 13,5 a 14,5 bilhões. “Isso é uma boa notícia, porque, quanto menos a companhia investe, mais ela paga em dividendos”, observou Nobre. Por outro lado, ele destacou um ponto negativo: as margens de refino, que foram impactadas pela política de preços da Petrobras e pela defasagem no reajuste dos combustíveis. Mesmo com esses desafios, Nobre concluiu que o resultado da Petrobras trouxe elementos positivos e negativos, mas que não se deve focar apenas no prejuízo final devido aos efeitos não recorrentes mencionados.