Nesta segunda-feira, os mercados globais enfrentam muita volatilidade, gerada por um suposto aumento das probabilidades de recessão nos Estados Unidos. Ainda que há analistas dizendo que o colapso nos mercados de ações nos últimos dias reflete mais um grande desmonte de operações de carry trade do que uma mudança brusca e rápida na perspectiva econômica dos EUA.
O carry trade é uma estratégia de investimento onde os investidores tomam empréstimos em moedas de países com baixas taxas de juros e investem em mercados de países com taxas de juros mais altas. Esse diferencial de taxas de juros (spread) permite que os investidores lucrem com a diferença. Investidores estariam desmontando o que se chama de maior “carry trade” que o mundo já viu. Ativos tradicionais de refúgio, como o iene e o franco suíço, sobem alimentando a especulação de que alguns investidores estavam tentando se desfazer rapidamente de carry trades rentáveis para cobrir suas perdas em outros lugares.
Impacto no Brasil
O economista Roberto Dumas explica que o Brasil está vendo uma depreciação cambial significativa como resultado da fuga de capital de ativos de risco, como o real brasileiro. Ele menciona que “o mercado para o Brasil é o câmbio depreciando. Ou seja, todo mundo acaba fugindo de ativos de risco e acaba indo para o West Bill, inclusive brasileiro.” Com a taxa de câmbio do real atingindo 5,81, ele observa que as expectativas inflacionárias devem piorar no próximo Boletim Focus.
Além disso, Dumas destaca que o desmonte das operações de carry trade está contribuindo para essa volatilidade. Ele explica que muitos investidores que tomaram empréstimos em ienes estão desfazendo suas posições devido à apreciação do iene. “A bolha, de certa maneira, já estourou. Eles estão desfazendo o carry trade. O Banco do Japão sobe a taxa de juros, faz com que o iene comece a apreciar.”
Dumas também menciona que essa apreciação do iene, entre 12% e 17%, está forçando os investidores a desfazer suas operações para evitar maiores perdas. Ele sugere que o Banco do Japão e o Federal Reserve dos EUA devem intervir para evitar um impacto ainda maior nos mercados.
Comparação com Crises Anteriores
Dumas não acredita que o cenário atual se assemelhe à crise de 2008. Ele afirma que os bancos centrais e os reguladores aprenderam com crises anteriores e devem agir para acalmar os mercados. “Os policy makers aprenderam que você não pode gritar fogo no meio do cinema quando não tem certeza. Isso é a pior coisa.”
O fim das operações de carry trade está causando volatilidade nos mercados globais e afetando diretamente o Brasil, especialmente em termos de depreciação cambial. Os investidores estão se ajustando a um cenário de maior incerteza, enquanto os bancos centrais e reguladores monitoram a situação de perto para evitar uma crise mais profunda.