Os Estados Unidos reconheceram recentemente a vitória de Edmundo Gonzales nas eleições venezuelanas, uma decisão que destaca a diferença de posturas entre o governo americano e o brasileiro.
Enquanto Washington toma uma posição clara, Brasília permanece hesitante, aguardando mais informações antes de emitir um parecer oficial sobre o resultado eleitoral na Venezuela.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou na última terça-feira que a eleição ocorreu de forma tranquila, mas o Itamaraty ainda espera por dados conclusivos.
Essa postura cautelosa é vista por muitos como um reflexo da perda de relevância do Brasil na política latinoamericana, especialmente em comparação com países como Argentina, Chile, Colômbia e México, que rapidamente se posicionaram ao lado dos Estados Unidos.
Segundo o professor Marcos Vinícius de Freitas, a decisão dos EUA não deve provocar grandes mudanças na Venezuela. “Se pensarmos nos mecanismos disponíveis – intervenção militar ou sanções – nenhum deles tem se mostrado eficaz. Exemplos históricos como Afeganistão, Líbia e Iraque ilustram as limitações dessas estratégias,” afirmou Freitas. Ele também destacou que sanções prolongadas, como as impostas a Cuba, não conseguiram derrubar regimes autoritários.
Engajamento como Melhor Estratégia
Freitas argumenta que o engajamento gradual e efetivo é a melhor forma de promover mudanças em regimes autoritários. “A elite dominante deve sentir que uma transição de poder não resultará na perda de seus direitos e benefícios. Sem essa garantia, qualquer tentativa de mudança enfrenta forte resistência,” explicou.
Postura do Brasil na Política Latinoamericana
O Brasil, tradicionalmente visto como um “anão diplomático,” tem adotado uma postura neutra em relação à Venezuela. Essa abordagem é criticada por especialistas que veem uma oportunidade perdida para o país se destacar internacionalmente. “A neutralidade pode permitir ao Brasil negociar com ambos os lados, mas historicamente o país tem perdido oportunidades de exercer um papel mais protagonista,” observou Freitas.
Ele também mencionou que, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso até o governo de Jair Bolsonaro, o Brasil tem oscilado entre apoio e oposição aos regimes chavistas, sem resultados concretos na mudança do cenário venezuelano.
Para Freitas, a melhor estratégia seria o Brasil adotar um papel de mediador, promovendo o diálogo entre as partes envolvidas na Venezuela. “Convocar um diálogo é crucial. A solução não será de imposição, mas sim mediada, com foco em engajamento a longo prazo,” concluiu.