A obesidade é uma preocupação crescente de saúde global, afetando cerca de 1 bilhão de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar da magnitude do problema, a desinformação e os preconceitos continuam a cercar a realidade dessa condição crônica, comprometendo a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos. É fundamental esclarecer que a obesidade não é uma questão de falta de caráter, falta de vontade, preguiça, desleixo ou indisciplina, características que levam a estereótipos e nutrem estigmas e preconceitos.
A endocrinologista e vice-presidente da área médica da Novo Nordisk, Priscilla Mattar, explica: “A obesidade é uma doença crônica, multifatorial, progressiva que requer tratamento médico, uma vez que está associada a mais de 200 enfermidades, como o diabetes tipo 2, as doenças cardiovasculares, a hipertensão e alguns tipos de câncer”.
Quais são as principais barreiras no combate à obesidade?
O combate à obesidade é um desafio complexo, influenciado por diversos fatores sociais, econômicos e individuais.Algumas das principais barreiras que dificultam esse combate são:
Barreiras Individuais:
- Hábitos alimentares: Dificuldade em mudar hábitos alimentares estabelecidos desde a infância, preferência por alimentos ultraprocessados e com alto teor de açúcar e gordura, falta de conhecimento sobre nutrição.
- Sedentarismo: Falta de tempo para praticar atividades físicas, falta de motivação, sedentarismo no trabalho e em casa.
- Fatores psicológicos: Estresse, ansiedade, depressão e baixa autoestima podem levar ao uso da comida como forma de conforto e recompensa, dificultando a perda de peso.
Barreiras Sociais:
- Disponibilidade de alimentos ultraprocessados: A grande quantidade de alimentos ultraprocessados e baratos disponíveis no mercado facilita o consumo excessivo e dificulta a escolha de opções mais saudáveis.
- Marketing de alimentos: A indústria alimentícia investe bilhões de dólares em marketing para promover alimentos ultraprocessados, especialmente para crianças e adolescentes.
- Ambiente alimentar: A falta de opções saudáveis em locais como escolas, hospitais e locais de trabalho dificulta a adoção de hábitos alimentares saudáveis.
- Cultura alimentar: Em muitas culturas, a comida é associada a momentos de celebração e socialização, o que pode dificultar a restrição alimentar.
Barreiras relacionadas à saúde:
- Condições médicas: Algumas condições médicas, como o hipotireoidismo e o síndrome dos ovários policísticos, podem dificultar a perda de peso.
- Uso de medicamentos: Alguns medicamentos podem causar ganho de peso como efeito colateral.
Barreiras relacionadas ao sistema de saúde:
- Falta de profissionais qualificados: Falta de nutricionistas e educadores físicos nas unidades de saúde.
- Falta de programas de prevenção e tratamento da obesidade: Muitos sistemas de saúde priorizam o tratamento de doenças já instaladas, em vez de investir em prevenção.
Quais são os Mitos e Verdades Sobre a Obesidade?
Considerando que no Brasil uma a cada quatro pessoas tem obesidade, conforme dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico Vigitel 2023, a endocrinologista Priscilla Mattar desmistifica alguns conceitos sobre essa preocupante doença crônica. Confira!
- Apenas comer muito não determina a obesidade: Verdade. A obesidade não decorre somente de maus hábitos alimentares. A ingestão calórica superior ao gasto energético é um fator que influencia o aparecimento da doença, mas não é o único. Essa doença é complexa e está relacionada a uma série de causas genéticas, ambientais, hormonais, comportamentais e fisiológicas.
- Dieta restritiva é o suficiente para driblar a doença: Mito. Dietas restritivas podem levar a déficits nutricionais. Segundo a endocrinologista, o correto é optar por uma reeducação alimentar. “A dificuldade de adequação do corpo às restrições extremas não torna essas estratégias funcionais, mas causa estresse, insatisfação e tristeza. Dietas equilibradas garantem energia e disposição, facilitam a adaptação e diminuem o peso de maneira sustentada e eficaz”, esclarece.
- Dormir pouco aumenta as chances de obesidade: Verdade. Pessoas que dormem menos têm mais chances de ter obesidade. Assim como o sedentarismo, alterações hormonais e genética, a qualidade do sono também pode ser determinante. Horas insuficientes de sono geram aumento do apetite e resistência à insulina, favorecendo o ganho de peso e o desencadeamento de doenças.
- Saúde mental não pode contribuir com o surgimento da doença: Mito. Pessoas com problemas de saúde mental têm mais chances de desenvolver obesidade. Assim como a condição pode ser determinante para o surgimento de danos psicológicos ocasionados pelos estereótipos negativos e dificuldades de socialização, pessoas que já se encontram emocionalmente abaladas correm o risco de chegarem a um quadro de obesidade.
- Desigualdade social impacta nos casos de obesidade: Verdade. Estudos apontam aumento da prevalência da obesidade em países subdesenvolvidos devido à falta de acesso a informações, oportunidades e alimentação equilibrada. A rotina corrida e exaustiva de grupos sociais mais vulneráveis impacta diretamente a saúde. A facilidade de consumo e a acessibilidade econômica de produtos industrializados é evidentemente maior do que a de uma dieta balanceada e rica em nutrientes.
Como podemos combater a obesidade?
Para combater a obesidade de forma eficaz, é necessário adotar múltiplas estratégias integradas e colaborativas. Medidas de política pública, educação nutricional, acesso facilitado a alimentos saudáveis e a prática regular de exercícios físicos são essenciais.
- Educação Nutricional: Promover a compreensão sobre alimentação saudável e equilibrada.
- Atividade Física: Incentivar a prática regular de exercícios para todos os grupos etários.
- Apoio Psicológico: Fornecer suporte psicológico para lidar com fatores emocionais e comportamentais.
- Políticas Públicas: Implementar políticas que promovam ambientes saudáveis e o acesso a alimentos de qualidade.
Cuidar da saúde é um compromisso diário. Vamos juntos combater esse desafio global e promover uma vida mais saudável para todos!