As taxas de obesidade em crianças e adolescentes brasileiros estão projetadas para aumentar significativamente nos próximos 20 anos. Segundo uma pesquisa apresentada no Congresso Internacional Sobre Obesidade (ICO), realizado em São Paulo entre os dias 26 e 29 de junho de 2024, até 2044, 24% dos meninos e meninas de 5 a 9 anos serão obesos. Além disso, na faixa etária de 10 a 14 anos, esse percentual será de 15%, enquanto entre os adolescentes de 15 a 19 anos, a obesidade afetará 12%.
Os resultados foram baseados em estudos conduzidos por uma equipe liderada pelos médicos Ana Carolina Rocha de Oliveira, do Instituto Desiderata, no Rio de Janeiro, e Eduardo Nilson, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Brasília. O estudo considerou um aumento médio do índice de massa corporal (IMC) para cada faixa etária, de acordo com os padrões observados em grupos de estudo brasileiros de 1985 a 2019.
Obesidade Infantil e Juvenil: Quais são as causas?
Fatores alimentares:
- Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados: Rica em açúcares, gorduras saturadas e sódio, essa alimentação fornece muitas calorias e poucos nutrientes.
- Diminuição do consumo de frutas, legumes e verduras: Esses alimentos são ricos em fibras e nutrientes essenciais, que ajudam a promover a saciedade e a saúde.
- Porções excessivas de alimentos: O tamanho das porções aumentou significativamente nas últimas décadas,levando ao consumo de mais calorias do que o necessário.
- Bebidas açucaradas: Refrigerantes, sucos industrializados e outras bebidas açucaradas contribuem significativamente para o ganho de peso.
Fatores comportamentais:
- Sedentarismo: A diminuição da atividade física, tanto na escola quanto em casa, é um fator de risco importante para a obesidade.
- Tempo excessivo em frente às telas: A exposição prolongada a telas (televisão, computador, celular) reduz o tempo dedicado a atividades físicas e aumenta o consumo de alimentos.
- Hábitos alimentares inadequados na família: Quando os pais têm hábitos alimentares pouco saudáveis, as crianças tendem a imitá-los.
Fatores ambientais:
- Disponibilidade de alimentos ultraprocessados: A grande quantidade de alimentos processados e fast-food disponíveis facilita o consumo desses alimentos, mesmo para crianças.
- Marketing de alimentos: A publicidade direcionada às crianças incentiva o consumo de alimentos pouco saudáveis.
- Organização do ambiente escolar: A falta de opções saudáveis nas cantinas escolares e a ausência de programas de educação alimentar contribuem para o problema.
Fatores genéticos:
- Predisposição genética: A genética pode influenciar o metabolismo e a tendência a ganhar peso, mas não é o único fator determinante.
Outros fatores:
- Distúrbios do sono: A falta de sono pode levar a alterações hormonais que aumentam o apetite e favorecem o ganho de peso.
- Problemas emocionais: O estresse, a ansiedade e a depressão podem levar ao uso da comida como forma de conforto, aumentando o risco de obesidade.
É importante ressaltar que a obesidade infantil é um problema multifatorial, e a combinação desses fatores pode variar de criança para criança. Para combater a obesidade infantil, é necessário um esforço conjunto de famílias, escolas, profissionais de saúde e sociedade em geral, promovendo hábitos alimentares saudáveis, incentivando a atividade física e criando ambientes que favoreçam a saúde.
Como a obesidade afeta a expectativa de Vida?
O impacto da obesidade tende a agravar com o tempo, uma criança obesa tem maior probabilidade de se tornar um adolescente e, eventualmente, um adulto obeso. A continuidade da doença ao longo dos anos leva a uma antecipação de condições graves como diabetes, hipertensão e dislipidemia, aumentando também o risco cardiovascular.
Um estudo recente apresentado no Congresso Europeu de Obesidade estimou que a expectativa de vida de uma criança de 4 anos com obesidade grave seria de apenas 39 anos. Este dado alarmante destaca a necessidade de intervenções precoces para melhorar o estado nutricional dessas crianças.
Qual a importância do diagnóstico Precoce?
Atualmente, é mais comum que crianças e adolescentes recebam diagnósticos precoces e comecem a tratar o sobrepeso antes da vida adulta. No entanto, isso nem sempre foi uma prática regular. Anos atrás, muitos adultos só procuravam ajuda médica quando já haviam desenvolvido complicações relacionadas ao excesso de peso.
De acordo com a endocrinologista Lívia Lugarinho, que coordena o Serviço de Obesidade, Transtornos Alimentares e Metabologia (SOTAM) do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE) no Rio de Janeiro, a melhora nos diagnósticos precoces é visível: “Hoje, não vemos mais tantos adultos de 18 anos chegando com um peso excessivo, pois muitos vêm do ambulatório de endocrinopediatria onde foram diagnosticados precocemente”.
Como realizar um diagnóstico preciso?
Para diagnosticar obesidade infantojuvenil, o pediatra deve considerar o Índice de Massa Corporal (IMC) em conjunto com outros exames complementares sobre composição corporal. Segundo Maria Edna de Melo, “o IMC isolado não pode ser usado”. A relação entre cintura e estatura é crucial, pois revela a distribuição de gordura no corpo e possíveis riscos metabólicos.
Quais são os desafios do tratamento?
No ano passado, a Academia Americana de Pediatria (AAP) emitiu novas diretrizes para combater a obesidade em crianças e adolescentes, recomendando, pela primeira vez, o uso de medicamentos para maiores de 12 anos e sugerindo a cirurgia metabólica e bariátrica para adolescentes com casos severos de obesidade.
A endocrinologista Maria Edna de Melo defende que a intensidade do tratamento deve ser proporcional à gravidade da situação. Ela também destaca o estigma em torno do uso de medicamentos: “Existe um preconceito. ‘Nossa, mas você vai dar remédio para emagrecer para uma criança?’”. Contudo, ela argumenta que é essencial considerar as consequências graves do excesso de peso na vida adulta.
Além disso, as crianças obesas frequentemente enfrentam bullying e discriminação no ambiente escolar, o que agrava ainda mais seu bem-estar psicológico e emocional.
Conclusão
Com base nas projeções alarmantes e nos desafios destacados, fica claro que a obesidade infantil e juvenil é uma questão urgente que requer atenção e ações estratégicas. Intervenções precoces, mudanças nos hábitos alimentares e conscientização pública são passos fundamentais para reverter essa tendência preocupante e assegurar um futuro mais saudável para as próximas gerações.