A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta nesta terça-feira, 23, sobre a detecção do poliovírus em seis amostras na região de Gaza, zona de conflito entre Israel e o grupo Hamas desde outubro do ano passado. Estas amostras foram identificadas pela Rede Global de Laboratórios da Poliomielite (GPLN) e, embora o vírus ainda não tenha sido encontrado em humanos, há um perigo de propagação a nível internacional.
De acordo com um artigo publicado na revista Science, a coleta das amostras ocorreu em águas residuais no final de junho. Isto sugere que o vírus está em circulação em uma região que já enfrenta deslocamentos populacionais em massa e um sistema de saúde em colapso devido aos ataques israelenses.
Poliovírus encontra terreno fértil em Gaza
A presença do poliovírus em Gaza apresenta um risco significativo de propagação, principalmente em áreas onde a infraestrutura de saúde já foi severamente comprometida. Segundo a OMS, a análise genética das amostras indica que a variante pode ter sido introduzida na região em setembro do ano passado.
O poliovírus tipo 2 vacinal derivado (cVDPV2) não é a forma selvagem do poliovírus, mas uma variante que pode surgir a partir da vacina oral. Apesar de esta vacina ter sido substituída em 2016 por uma versão com o vírus inativado, o cVDPV2 ainda pode ser perigoso em áreas com baixas taxas de vacinação.
O Poliovírus encontrado em Gaza é perigoso?
O poliovírus é altamente contagioso e foi declarado como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (PHEIC) pela OMS desde 2014. Este é o estado de alerta mais alto para uma doença em circulação e reflete a seriedade do risco que o poliovírus representa, especialmente para crianças.
- A pólio afeta principalmente crianças com menos de 5 anos.
- Uma em cada 200 infecções resulta em paralisia irreversível.
- A taxa de mortalidade pode chegar a 10% devido à paralisia dos músculos respiratórios.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, afirmou em suas redes sociais que, antes da guerra, Gaza tinha ótimas taxas de vacinação contra a poliomielite. No entanto, a dizimação do sistema de saúde, a falta de segurança, obstrução do acesso, escassez de material médico, má qualidade da água e saneamento deficiente aumentam o risco de doenças evitáveis pela vacinação, como a pólio.
Como a pólio se manifesta e qual é o tratamento?
A poliomielite tem um modo de transmissão fecal-oral, sendo espalhada por água ou alimentos contaminados. Após infectar o intestino, o vírus invade o sistema nervoso e pode causar paralisia em poucas horas. Entre os primeiros sintomas estão:
- Febre
- Fadiga
- Dor de cabeça
- Vômitos
- Rigidez de nuca
- Dores nos membros
Importante ressaltar que não há tratamento para a poliomielite; a prevenção é feita exclusivamente por meio da vacinação.
Vacinação contra a pólio no Brasil: uma Necessidade Constante!
No Brasil, a vacina contra a poliomielite é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para evitar surtos, a OMS recomenda uma cobertura vacinal de 95%. No entanto, dados recentes indicam que as taxas de vacinação estão abaixo desse ideal, o que é preocupante.
Até maio de 2024, a cobertura vacinal com a vacina inativada poliomielite (VIP) era de 85,42% para crianças com menos de 1 ano. Em 2023, o percentual foi de 84,63%, e em 2022, 77%. Vale destacar que um novo esquema vacinal entrará em vigor no segundo semestre deste ano, substituindo as doses com a vacina oral pela VIP.
É crucial que as campanhas de vacinação sejam intensificadas, especialmente em áreas afetadas por conflitos ou com infraestrutura de saúde frágil, para garantir que a poliomielite não volte a ser uma ameaça global. A cooperação internacional e a vigilância constante são essenciais para eliminar de vez este vírus devastador.